Choveu muito na Feira de Santana
nos últimos dias. Essas trovoadas, a propósito, não desabaram apenas por aqui:
boa parte da Bahia foi beneficiada pelas precipitações que costumam antecipar
anos bons, de acordo com a ancestral sabedoria sertaneja. O fato é que, de
imediato, as reservas hídricas foram reforçadas. Isso alivia aquela angústia
comum nos finais de ano em que não chove, quando as ameaças sobre a lavoura –
e, sobretudo, a pecuária – se avolumam.
Assim, 2019 tende a começar
melhor que os amargos anos anteriores, quando a ausência de chuvas praticamente
paralisou a labuta no campo, principalmente entre os pequenos proprietários.
“Há quem não tenha nem um ovo para vender”, comentavam, espantados, os
conhecedores do rural feirense nos corredores do Centro de Abastecimento.
Após as recentes trovoadas, há
quem cavouque a terra para plantar o feijão verde, característico do período. A
expectativa de que vingue uma safra razoável de caju também cresceu. E há as
esperanças de que as chuvas – e a água acumulada – favoreçam os modestos
criatórios de gado, de ovelha, de cabra. Bem diferente dos dezembros e janeiros
abrasadores dos últimos anos.
A trégua é curta – o inverno
sertanejo costuma depender das precipitações que se estendem de fevereiro a
maio – e é necessário perceber que as recentes trovoadas constituem felizes
exceções na rotina áspera do semiárido. Lidar com o tema exige um planejamento
que, há décadas, foi abandonado para a região. Pior: discutir o regional –
sobretudo o Nordeste – se tornou heresia no Brasil contemporâneo.
Discurso
Porém, nada sinaliza que, a
partir de 2019, reverta-se essa tendência. O governo de extrema-direita que
ascende em Brasília a partir de 1º de janeiro não apresentou, até aqui, nenhum
proposta para a região. Sequer aquelas tradicionais platitudes, típicas de quem
tateia temas desconhecidos, se ouviu. Muito pelo contrário: o que o novo mandatário
fez foi reclamar do “coitadismo” dos nordestinos.
O que prevalece, como fórmula
universal, é a exaltação das soluções de mercado. Deve-se privatizar tudo,
terceirizar tudo, conceder tudo, porque, por princípio – e, provavelmente, por convicção
religiosa – o Estado deve ser mínimo e o “deus mercado”, o máximo. Ninguém
indica aonde essa fórmula fácil deu certo, mas é o que se ouve. É questão de
fé, certamente.
Caso prevaleçam essas inclinações
– o que hoje se enxerga na transição é uma balbúrdia cujos desdobramentos são
difíceis de prever – o que se reserva para o Nordeste é, no mínimo, o
aprofundamento das já significativas desigualdades interregionais. Para o
semiárido, então, as perspectivas são ainda mais desoladoras.
A trégua é curta – o inverno
sertanejo costuma depender das precipitações que se estendem de fevereiro a
maio – e é necessário perceber que as recentes trovoadas constituem felizes
exceções na rotina áspera do semiárido. Lidar com o tema exige um planejamento
que, há décadas, foi abandonado para a região. Pior: discutir o regional –
sobretudo o Nordeste – se tornou heresia no Brasil contemporâneo.
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