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A Globo é comunista, de esquerda. Por isso que passa essas novelas com mulher
beijando mulher.
Essa
frase eu ouvi ali no Feira 6, durante um almoço. Três mulheres conversavam na
mesa vizinha. Uma delas discorria sobre o comunismo e, obviamente, espinafrava
os petistas. Empregava a expressão “comunista” com ampla desenvoltura. Deduzi
que, para ela, “comunismo” é tudo aquilo que a incomoda e que a desconforta. Um
conceito elástico, que pode servir para rotular muita coisa.
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Não tenho nada contra, não, mas esse negócio de mulher beijando mulher e homem
beijando homem na televisão não está certo. Votei em Bolsonaro para acabar com
isso.
Flagrei
esse diálogo entre um sujeito que aguardava ônibus no Corredor da Vitória, em
Salvador, e um vendedor de frutas. Apesar do reparo, parecia indignado com esse
papo de liberdade de expressão e, sobretudo, com o direito do outro de exercer
a própria sexualidade. Julgava que esses casais tinham que se beijar às escondidas.
Tanto
a comensal do Feira 6 quanto o passageiro do Corredor da Vitória eram pobres.
Gente modesta, vestida com roupas simples, gastas pelo uso. Votaram na pauta de
costumes cujo amplo apelo mobilizou multidões nas eleições do ano passado.
Imagino que compartilham também do discurso de “menos impostos” que seduziu
tanta gente.
Retrocesso
econômico
Parece
que, antes dessa agenda conservadora sair do papel, essa gente vai marchar
muito com a pauta econômica que o governo Jair Bolsonaro está sacando da
algibeira. A “pauta de costumes” vai ficar em segundo plano; as draconianas
reformas econômicas estão à frente na fila e mobilizam – se é que a expressão é
cabível diante do caos político – e têm que sair logo para atender as pressões do
“deus mercado”, que encarna os interesses dos donos do Capital.
Para
começar, vem aí a reforma da Previdência que, na prática, vai restringir ainda
mais o direito à aposentadoria pelos mais pobres. Esses, primeiro, foram
atropelados pela revogação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT no
governo Michel Temer (MDB). Caso sobrevivem até os 60 anos – enfrentando todo
tipo de restrição no acesso a serviços públicos essenciais – poderão desfrutar
de uma espécie de “auxílio-miséria” no valor de R$ 400. É o que propõe o
governo.
O
pacote, porém, não se esgota aí. “Privilégios” como o vale-transporte e o
auxílio-alimentação já estão na alça de mira. Tudo para reduzir os custos do
patronato. Isso não deve importar à classe média baixa que, há tempos, vive a fantasia
de que é “empreendedora” – eufemismo para precariedade – e que, com o auxílio
divino, vai se tornar empresária de sucesso lá adiante.
Vai
levar tempo para o brasileiro perceber que se enfiou num tremendo buraco. E vai
pesar no bolso. Depois da crise legada pelo petismo, vem a avassaladora redução
de direitos como alegada alternativa para se sair da crise. Mas muitos não se
importam. Para eles, basta que ande a “pauta de costumes”.
Mas será que essa agenda
interessa aos donos do Capital?
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