A
semana começou com mais um capítulo da interminável crise que envolve o
transporte coletivo na Feira de Santana. Greve dos rodoviários reivindicando
reajuste salarial, ônibus retirados das garagens pelas empresas, acusações,
nota aqui, nota ali... enfim, um quiproquó terrível. Desde o começo da
pandemia, aliás, que a situação se deteriorou de vez: antes, as crises eram
intermitentes, embora os serviços sejam sofríveis há muito tempo. Agora, as
crises tornaram-se permanentes, viraram caos.
Há
tempos que a qualidade do transporte coletivo na Feira de Santana só decai.
Constatar isso é fácil: basta sair indagando à população, aos rodoviários mais
antigos. A Prefeitura até teve uma oportunidade para qualificar o sistema com a
licitação de 2016, mas desperdiçou: a melhora foi transitória e, pouco depois,
os problemas crônicos retornaram.
Complicando
tudo, neste período a Feira de Santana passou por uma drástica reconfiguração
urbana que, ao que parece, escapou à percepção dos planejadores do transporte
no município: o esvaziamento do interior do Anel de Contorno e a dispersão da
população pelos incontáveis condomínios – verdadeiros bairros! – que foram
surgindo.
Muita
gente pobre que morava dentro do Anel de Contorno foi despachada para os
condomínios populares que, a rigor, se distribuem por quatro regiões: Aviário,
Santo Antônio dos Prazeres, Conceição e Gabriela/Pampalona/Asa Branca/Pedra
Ferrada. Deslocar-se destes lugares distantes em direção à região central da
cidade exige esforço e paciência. Desde antes da pandemia, é bom ressaltar.
Não
é à toa que o transporte clandestino e as vans faturam alto atendendo quem mora
nestas localidades. Para constatar, basta circular pelo centro da Feira de
Santana. São diversos os pontos de embarque para estes destinos. O mesmo
problema atinge a região do SIM, embora, na média, o poder aquisitivo de quem
reside naquelas cercanias seja maior. Quem precisa se deslocar usando o
transporte coletivo pena da mesma maneira.
Esta
é apenas uma das dimensões do imenso problema que é o transporte coletivo na
Feira de Santana hoje. Alega-se que, com a pandemia, todos as grandes cidades
enfrentam dificuldades. É verdade. Mas, para ser fiel aos fatos, é bom não relativizar,
enxergando uma causa única. O serviço também era ruim antes da Covid-19. Fingir
que o problema não existe, aliás, só contribui para torná-lo ainda maior.
A
crise é tão grave que até a Câmara Municipal – desde sempre mergulhada em
profunda letargia, com suas efemérides e condecorações – reuniu assinaturas
suficientes para uma CPI, anuncia que vai se mobilizar. É bom aguardar, ver se
vai-se além da retórica de praxe: caso as pressões resultem em melhorias
efetivas no sistema, já será de bom tamanho.
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