Dizem
que, no Brasil, há leis que pegam e outras que não pegam. Esse negócio de
comércio aberto em feriado – pelo menos aqui na Feira de Santana – parece que funciona
na mesma toada. Hoje (24), dia consagrado a São João no calendário católico, a
autorização para o comércio funcionar entusiasmou pouco. Pela manhã até havia
loja aberta, algum movimento de passantes. À tarde, tudo era desolação.
Na
Sales Barbosa, na manhã de céu cinzento, até havia passantes. Quem trabalhava,
ficou de prosa, porque cliente era coisa rara. À tarde – havia uma luminosidade
úmida sob o azul puríssimo – a quietude, densa, se impôs. O que havia de
movimento era o voo desajeitado dos pombos. Na Senhor dos Passos, até havia gente.
Pouca, mais havia. Afinal, ali funcionam badaladas lojas de departamento.
No
fundo, o comércio aberto aos domingos e feriados – com a frequência persistente
dos últimos meses – atende, basicamente, este segmento. Só as grandes redes
para bancar o adicional do comerciário e apostar em movimento que justifique a
abertura. Investem, na verdade, numa mudança de mentalidade, na consolidação da
cultura do comércio aberto nestas datas. Para tanto, dispõem de estofo
financeiro para a aposta.
O
lojista que peleja em estabelecimento miúdo – boa parte do comércio feirense –
arrisca só nos momentos de comércio aquecido, de dinheiro circulando na praça,
como nas festas de final de ano. Noutros períodos, abrir a loja domingo e
feriado costuma dar prejuízo. Daí a baixa adesão hoje, no feriado de São João.
Sem
dinheiro – a pandemia legou profundos desarranjos à economia brasileira,
alvejando sobretudo os trabalhadores e os mais pobres – e acossado pelas
incertezas, o consumidor não se arrisca no comércio. Para piorar, o péssimo
transporte público desanima. Se os deslocamentos já são difíceis nos dias
úteis, imagine-se num domingo ou num feriado. As esperas são intermináveis.
É
bom lembrar, também, que o nordestino tem imenso apreço pelas celebrações
juninas, sua festa predileta e mais tradicional. Poucos se disporiam a flanar
pelo comércio da Feira de Santana no 24 de junho, abandonando suas celebrações,
mesmo que limitadas pela pandemia.
Parece
que, por aqui, aproveitaram a pandemia para “passar a boiada” do comércio aberto
a semana inteira. Percebe-se, porém, que há limites – sobretudo culturais – à
estratégia. Caso o centro feirense dispusesse de atrativos adicionais além das
lojas, vá lá. Mas não há. A desolação nos sucessivos feriados revogados é uma
demonstração muito eloquente.
Fica
a lição para os próximos feriados. E para o próximo São João.
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