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Até o carro do ovo sumiu

 

– Até o carro do ovo anda sumido!

Ouvi o comentário no fim de semana. Apesar das limitações da pandemia, andei pesquisando, indagando, inquirindo.  Por fim, descobri que a observação procede. Em bairros mais populosos, ainda há vendedores se aventurando, às vezes, mas o preço subiu: 30 ovos saem por R$ 15. É caro: quando os carros do ovo se popularizaram, vendedores estridentes anunciavam 40 unidades por R$ 10.

Até 2014 os petistas jactavam-se que trabalhador podia, finalmente, comer filé, fazer churrasco. A crise econômica que eclodiu no ano seguinte dissolveu essas fantasias. Foi aí que os carros do ovo surgiram, onipresentes, circulando até pelos bairros elegantes das grandes cidades brasileiras.

Um dos símbolos da gestão Michel Temer (MDB-SP) – o mandatário de Tietê que aplicou uma rasteira no petê em 2016, apeando-o do poder –, o carro do ovo parecia sinalizar a derrocada do brasileiro, o fundo do poço. Depois do filé, o ovo, triste reencontro com a opção proteica que marcou os dolorosos anos 1980 de duras crises econômicas.

Pois, agora, até o carro do ovo desapareceu. O ovo está caro graças à inflação galopante; e o brasileiro – o feirense, em particular – está desempregado ou amarga achatamento da renda. Muitos, coitados, não dispõem sequer de trocados para comprar o produto. Por isso os carros e seus locutores desapareceram. Há quem culpe a pandemia. Bobagem: o catastrófico desgoverno de Jair Bolsonaro, o “mito”, é o grande responsável pela tragédia.

O sumiço do carro do ovo, a propósito, é só um sintoma do problema maior que é a inflação de alimentos. A ela, soma-se a perversa carestia do botijão de gás, da energia elétrica, dos preços dos remédios e por aí vai. Tornando tudo ainda pior, a Câmara dos Deputados avança vorazmente sobre o que resta de direitos dos trabalhadores.

Pois, para arrematar o cenário do mais completo horror, o “mito” está convocando os acólitos de sua seita pagã para manifestações patrióticas no 7 de Setembro. Fala-se até no risco de um levante de alucinados, de invasão do Supremo Tribunal Federal, o STF, em Brasília. Como se já não bastassem todos os mortos da pandemia da Covid-19, parece que estão sedentos por mais derramamento de sangue. É no que costumam dar essas aventuras golpistas.

Caso o golpe vá adiante, é bom lembrar das consequências imediatas: embargos comerciais, desvalorização do real, escalada inflacionária ainda mais intensa, fuga de investidores estrangeiros, desemprego, fome e miséria. Mas, para alguns, tudo vale a pena em nome do combate ao “comunismo”. Talvez o sumiço do carro do ovo seja só um primeiro sintoma de que tudo vai piorar muito mais...

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