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Todo dia morre um na Feira!
O
comentário é comum nas movimentadas esquinas do centro da cidade, nos
corredores apinhados do Centro de Abastecimento, nos botequins espalhados pelos
bairros, na periferia enlameada, na chuvosa zona rural de julho, provavelmente
até nas repartições públicas, nos ambientes corporativos das empresas e nas
pacatas salas de jantar. O teor dos comentários, evidentemente, varia conforme
a orientação ideológica dos interlocutores, o nível de renda, o grau de
instrução, a fé que professam e por aí vai.
Hoje
(15), a divulgação das informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública
com certeza animou as rodas de conversa. Segundo o levantamento – conduzido
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública – a Feira de Santana ostenta o 18º
lugar no ranking da letalidade policial. Segundo o levantamento, 47 pessoas
foram mortas em decorrência de intervenção policial ano passado por aqui.
À
frente da Feira de Santana há capitais (Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador,
Curitiba, Goiânia e por aí vai) e cidades conflagradas do Grande Rio, como
Duque de Caxias, Belford Roxo, São João do Meriti e Nova Iguaçu. Com porte
similar, desbancam a Feira de Santana neste ranking macabro Londrina (PR) e
Niterói (RJ). No Nordeste, só Salvador – já citada – e Fortaleza estão à
frente.
Há
alguns meses, em abril, uma organização não-governamental mexicana – o Conselho
Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal – divulgou seu levantamento
anual, apontando a Feira de Santana como a 9ª cidade mais violenta do mundo. A
análise se refere à quantidade de homicídios registrados por ano em cidades com
mais de 300 mil habitantes.
Na
ocasião, os metodólogos de plantão questionaram a metodologia e não faltou quem
“achasse” que havia exagero, subnotificação noutros lugares, má vontade com a
Princesa do Sertão. O novo número – este referente às mortes provocadas por
intervenção policial – apenas reforça a sensação de que a Feira de Santana é,
de fato, um lugar muito violento. A quantidade de mortes todos os anos – seja
pela ação das polícias ou não – é incontornável.
Mas
o que esperar daqui para a frente? O Brasil está à deriva, flertando com o
abismo. Sensatez é artigo raro, virtude de poucos na vida pública. Quando se
menciona a questão da violência urbana, então, as paixões afloram e as
contendas lembram metafóricas pancadarias de cais do porto. Assim, é bom não se
iludir, não buscar refúgio no desvario: tudo indica que a matança vai seguir aí,
se estendendo.
Pelo
menos até os ventos políticos mudarem no País. Mas isso depende de a sociedade
mudar também. Não é algo trivial.
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