Aqueles
entardeceres cinematográficos estão de volta e sinalizam para a chegada da
primavera aqui na Feira de Santana. Outros sinais também são visíveis: o calor
crescente – mesmo que à noite a temperatura caia um pouco – as flores
desabrochando, os pássaros se reproduzindo, a alvorada que encurta as
madrugadas. Oficialmente, a estação começa apenas na quarta-feira, no fim da
tarde. Mas já há um clima de primavera no ar, o que qualquer observador atento
consegue captar.
A
partir da primavera, os feirenses começam a se deslocar para as praias. Os mais
endinheirados, ultimamente, elegeram o badalado litoral norte baiano como
destino preferencial. Mas há quem mantenha a predileção pela região de Morro de
São Paulo. E o povão? Muitos “descem” para Salvador aos domingos ou se espalham
pelas praias ao redor da Baía de Todos os Santos.
Há
disparidade também nos meios de locomoção: quem tem grana desfila em
caminhonetes possantes, em automóveis de luxo. O povo, tradicionalmente,
embarca nas lotações em vans, em ônibus antigos, em carros de passeio. Para o
abastado, trata-se de uma rotina agradável, que se frui até com displicência. O
povão, não: a trégua no atribulado dia-a-dia exige dedicação intensa, prazer
ostensivo.
Como
serão os meses de veraneio que se aproximam? A pandemia, aos poucos, arrefece,
permitindo que os fios da rotina sejam lentamente reatados. Em A Peste, de Albert Camus, o fim da
epidemia de peste bubônica levou a população às ruas, num delirante êxtase
coletivo. Tudo que se deixara de se fazer era retomado com sofreguidão,
vivia-se com insensata intensidade. E por aqui? Como as pessoas vão se
comportar?
É
claro que muitos ignoraram a Covid-19, forçando uma normalidade que os próprios
semblantes desmentiam. Agora, não. Apesar do negacionismo ainda em voga, a
vacinação avança e tudo indica que, nos próximos meses, as mortes cairão mais e
a retomada vai se intensificar. Será uma experiência interessante observar o
comportamento das pessoas nos próximos meses.
O
pior é que nuvens sombrias aguardam o brasileiro na linha do horizonte. A
desastrosa gestão da pandemia, no Brasil, prolongou-a, amplificando os nefastos
efeitos econômicos. O brasileiro – sobretudo o mais humilde – sairá ainda mais
pobre e sem perspectiva no curto prazo. As dificuldades já são visíveis pelas
ruas, pelas praças, nos semáforos. Para piorar, já está aí uma crise energética
que vai se intensificar nos próximos meses.
O
pós-pandemia, portanto, será muito complicado. Não haverá aquele êxtase
coletivo da obra de Camus. Sobretudo porque o país seguirá sem governo. E ainda
há quem fique amuado quando se diz que o diabo zombou do Brasil em 2018, quando
Jair Bolsonaro, o “mito”, se elegeu presidente...
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