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O 11 de Setembro de 2001 na Feira

 

– Um avião bateu contra o World Trade Center lá em Nova Iorque...

A notícia chegou no fim da sessão da Câmara Municipal aqui da Feira de Santana. Quem a trouxe, nem recordo. Mas sei que não atribuiu grande importância. Assim, julguei o fato um acidente, talvez um aviãozinho qualquer tivesse se chocado por acaso contra uma das Torres Gêmeas. Naquela época, o frenesi pela busca por informações nos aparelhos celulares ainda estava distante. Segui a rotina, despreocupado.

Por alguma razão, fui à avenida Getúlio Vargas naquela manhã ensolarada, típica do fim do inverno. Lá, recebi a ligação de um amigo fornecendo detalhes, informando que fora um atentado de grandes proporções. Descreveu as cenas vividamente, sua agitação ao telefone contrastava com os pios tranquilos dos pardais nos oitis das cercanias da Praça de Alimentação. Apressei o passo em busca de uma tevê.

Muita gente fez o mesmo, naquele e nos dias seguintes. Embora pouco afeito ao noticiário internacional, o feirense parou defronte às tevês das lojas de eletrodomésticos, dos bares, das farmácias, das lojas e de qualquer lugar que dispusesse de um aparelho. Osama Bin Laden, a Al Qaeda, o Talibã e o Afeganistão tornaram-se populares até entre quem mercadejava na Marechal Deodoro, na Sales Barbosa.

À época, a internet ainda era pouco difundida. Nela, o acesso ao noticiário apenas engatinhava. Daí a necessidade da tevê, do rádio, dos jornais impressos que se esgotaram rapidamente na manhã seguinte. Lembro que até tentei adquirir um exemplar da Folha de São Paulo numa banca do centro da Feira de Santana. O vendedor ficou indignado com minha pretensão:

– Só vão chegar dez exemplares e já tem uma fila de espera com mais de 15 pessoas!

Desisti. Tive que disputar um exemplar quase no tapa na Biblioteca Central da Uefs, à noite. Mas consegui ler boa parte da edição especial. Em volta da tevê, no hall da biblioteca, dezenas de estudantes acompanhando, atentos, o noticiário. Foram dias febris. Ali, todos sabiam que o mundo estava mudando.

Pelas ruas, como sempre, não faltou quem enxergasse mais um sinal do fim dos tempos, do Apocalipse, da volta de Jesus Cristo. O que sempre acontece nestas ocasiões, aliás. Até então, só quem lia jornais sabia das atrocidades do Talibã no Afeganistão ou do recrudescimento do terrorismo islâmico na Ásia e na África.

O tétrico 11 de Setembro tornou costumeiras no noticiário as imagens dos combatentes com seus fuzis, seus trajes típicos e suas convicções obscurantistas na arenosa paisagem afegã. Irreverente, o feirense tratou de apelidar de “Bin Laden” ou “Osama” os raros barbudos daqueles tempos. Muitos, obviamente, ficavam indignados. Outros, até temerosos, assustados com a novidade do terrorismo.

Lá se vão 20 anos. O mundo mudou muito desde então. O mais impressionante, porém, foram as mudanças nas formas de produção e de disseminação de notícias, o caráter quase instantâneo do acesso às informações na atualidade. Lembro que o telefonema do colega mencionado acima foi atendido com um daqueles aparelhos celulares que, basicamente, serviam só para chamadas de voz...

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