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E a agenda de desenvolvimento para Feira?

Os períodos eleitorais são oportunidade ímpar para o debate sobre o desenvolvimento. É certo que isso vem caindo em desuso nos últimos anos: em 2010, por exemplo, na campanha presidencial, abandonou-se a discussão sobre eventuais caminhos para a economia do país – sobretudo em função da crise econômica mundial que eclodira dois anos antes – para se enveredar em polêmicas estéreis buscando agradar o eleitorado conservador.
Quatro anos depois foi ainda pior: naquelas eleições, o ódio efervesceu a temperaturas inéditas em décadas, produzindo fissuras que se amplificaram com a feroz crise econômica e que, até o momento, parecem distantes de se desfazer. A discussão sobre o futuro do País, mais uma vez, ficou em plano secundário.
Parece que, em 2018, mais uma vez, essa discussão também não vai prevalecer. No máximo o que há por aí é a agenda do “deus mercado”, sustentada pelo argumento da ausência de alternativas, do caminho único, da receita universal. Isso significa, na prática, a interdição do debate sobre os destinos do Brasil, justamente no momento em que o País mais necessita de diálogo.
No nível local – que é onde se aplicam as concepções do planejamento – é que esses efeitos serão percebidos. Sobretudo em regiões mais carentes de infraestrutura, como é o caso do Nordeste. Tudo sinaliza para mais quatro anos de austeridade seletiva, penalizando justamente aquelas regiões que mais carecem de investimentos.

Feira de Santana

Na Bahia, Salvador permanece como destino preferencial dos investimentos em infraestrutura. É lá que estão sendo tocadas as grandes obras de mobilidade urbana – a exemplo do metrô – e onde se rasgam novas e largas avenidas que vão conectar as diversas regiões da capital baiana. É claro que esses investimentos são essenciais, mas é evidente também que o interior segue precisando de investimentos.
Aqui na Feira de Santana, por exemplo, as necessidades se avolumam. Vá lá que se rasgou a avenida Nóide Cerqueira e que um trecho do anel de Contorno foi duplicado, desafogando um pouco o tráfego na porção sul da cidade. Mas o mesmo anel de Contorno segue à espera de uma solução definitiva – o trânsito na via, sobretudo pela manhã e nos finais de tarde, é exasperante – e rodovias federais no entorno exigem duplicação há décadas.
O desejável, mesmo, seria que essas intervenções se articulassem com os municípios do entorno, viabilizando a festejada região metropolitana que nunca saiu do papel. Mas, para isso, é preciso governo que planeje e pretenda, de fato, implementar o que concebeu. Não é o que vai acontecer caso siga prevalecendo a agenda do “deus mercado”.

Lideranças

Não se pode ser injusto e apenas culpar o “deus mercado”: este se relaciona às questões de conteúdo. Há graves problemas também em relação ao método: no Brasil do balcão, da barganha parlamentar, rejeita-se a perspectiva do macro para se abraçar o micro, a obra miúda que agrada o amigo parlamentar e impressiona o eleitor confinado no curral eleitoral. Nada mais danoso para ambições abrangentes de desenvolvimento.
A situação não resulta de um incontornável fenômeno natural: é produto de arraigadas, mas mutáveis concepções políticas. A sociedade civil – com suas organizações, associações e variadas entidades – deve pressionar suas lideranças políticas para que a lógica parlamentar comece a mudar. Não existe momento mais adequado que aquele que precede eleições presidenciais, como o que estamos vivendo.
Feira de Santana possui necessidades variadas e urgentes que, ao invés de serem viabilizadas no varejo e sem articulação com soluções mais abrangentes, precisam se condensar num robusto plano de desenvolvimento. Elementos para esse plano podem ser oferecidos pela própria sociedade, mas exigem a mediação do poder político para se concretizar.
Utópico à primeira vista, esse caminho é o mais seguro para impulsionar o desenvolvimento – com os investimentos fundamentais em infraestrutura – que todos almejam em seus discursos.

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