Ao
contrário das eleições presidenciais – mergulhadas num mar de incertezas e de
candidaturas que, lá na frente, provavelmente não se confirmarão – o pleito
estadual, que indicará o novo governador da Bahia, parece crivado de verdades
insofismáveis. Pelo menos é o se percebe conversando com gente que circula
pelos bastidores da política, simpatizantes das potenciais pré-candidaturas ou a
gente simples nas ruas, que se mantêm atenta ao noticiário político.
Entre
essas verdades está a de que o governador Rui Costa (PT) é amplamente favorito
à reeleição. Há quem, sequer, pestaneje diante dessa certeza. A propalada
aprovação da população, o amplo leque de alianças que dá sustentação ao governo
e a capilaridade dos movimentos sociais que apoiam a candidatura petista
referendam essas certezas. Isso apesar do cenário nacional bastante nebuloso.
As
incertezas que ainda pesam sobre a oposição potencializam esse otimismo. O
prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ainda não confirmou a disposição de
entrar na disputa. A expectativa é que o faça até a sexta-feira (16), conforme
noticia a imprensa. Caso não se arrisque, deixando a prefeitura da capital na
metade do segundo mandato, crescerão as apostas numa vitória fácil do petismo.
A
explicação é simples: no momento, a oposição não conta com nomes com densidade
eleitoral para vencer o petismo, à exceção de ACM Neto. Há, claro, lideranças
regionais que agregam, que carreiam votos em suas regiões. Mas nenhuma delas,
hoje, possui musculatura em nível estadual para o embate, conforme se percebe.
Escolha?
Há
quem aponte que ACM Neto ainda é jovem, toca um mandato bem avaliado em
Salvador e pode, tranquilamente, adiar sua pretensão de se tornar governador da
Bahia. Isso é válido sob uma perspectiva estritamente individual: as questões
políticas envolvem cenários muito mais complexos. Aparentemente, abdicar de uma
candidatura agora pode render dissabores maiores no futuro, mesmo se expondo ao
risco de uma derrota em outubro.
As
razões são visíveis. Caso permaneça na prefeitura e indique um candidato pouco
robusto, ACM Neto pode conceder ao PT uma vitória consagradora, como foi a sua
própria, inclusive, em 2016, para a prefeitura; isso vai animar petistas e
aliados a partir com tudo em 2020, para, finalmente, conquistar Salvador e
encurtar seus horizontes para 2022.
Sua
candidatura também é fundamental para carrear votos para uma chapa presidencial
de centro-direita em outubro; caso não o faça, a oposição pode obter uma
vitória esmagadora na Bahia – como vem ocorrendo nas últimas eleições presidenciais
– pavimentando uma vantagem imprescindível para a candidatura de
centro-esquerda no plano nacional.
Hesitação
Seria
surpreendente, portanto, que o prefeito de Salvador abdicasse da candidatura. A
própria aparente hesitação, inclusive, parece jogo de cena para se cacifar, firmar-se
com maior solidez junto aos aliados. A própria ascensão à presidência do
Democratas parece movimento de quem pretende alçar voos mais altos, assim como
suas frequentes articulações em Brasília.
O
cenário momentâneo é, sem dúvida, francamente favorável a Rui Costa. Mas os
rearranjos políticos, as incertezas que rondam as decisões da Justiça, o revés
enfrentado por Lula, o conturbado ambiente no Planalto Central, tudo isso tem
potencial para interferir na aparentemente tranquila eleição baiana. Mesmo porque,
até as eleições, faltam muitos meses.
Espera-se que, superada a
etapa das discussões sobre nomes, prevaleça o debate sobre os destinos da
Bahia. Afinal, a economia baiana emerge da crise num ritmo mais lento que o do
País e a exclusão social tende a se aprofundar, até como consequência da
terrível crise econômica. E enfrentar isso exige mais que discurso e
propaganda.
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