O
clima na oposição baiana ainda é de estupefação diante da desistência do prefeito
de Salvador, ACM Neto (DEM), de disputar as eleições para governador da Bahia. É
claro que poucos admitem publicamente, mas nos bastidores houve surpresa,
espanto e desalento. Liderança mais destacada da oposição ao PT na Bahia, o
chefe do Executivo soteropolitano era aposta certa, inclusive, para alavancar no
estado a indefinida candidatura de centro-direita que ainda não se firmou no
cenário eleitoral.
Com
a desistência, se estabeleceu um clima confuso, carregado de incertezas. O
apressado lançamento de duas candidaturas de oposição – José Ronaldo de
Carvalho (DEM) e João Gualberto (PSDB) – e a troca de farpas com o MDB, que
também anunciou que vai lançar candidato, mostram a oposição atabalhoada, a
apenas seis meses das eleições.
Milhares
de matérias, comentários e artigos foram dedicados à chapa de oposição nos
últimos meses. Nela, invariavelmente, ACM Neto figurava como candidato a
governador. E João Gualberto, José Ronaldo e Jutahy Magalhães Júnior
alternavam-se na composição com nomes do PP e do PR, hipotéticos novos aliados,
que no fim não debandaram da situação.
Na
véspera da desistência, a propósito, ACM Neto disputaria o governo, João
Gualberto seria o vice e José Ronaldo e Jautahy Júnior figuravam como
candidatos ao Senado. Sexta-feira (06) veio a hecatombe: o prefeito de Salvador
desistiu e lançou, de imediato, a candidatura de José Ronaldo, o que desagradou
os tucanos baianos. Ao longo da semana as fissuras e as rusgas se avolumaram,
embora a possibilidade de um acordo, mais adiante, não seja descartada.
Presidência
São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia abrigam quase 50% do eleitorado
brasileiro. Quem pretende chegar à presidência da República precisa de
palanques competitivos nesses estados. A desistência de ACM Neto impõe
percalços severos para, pelo menos, duas pré-candidaturas: as de Rodrigo Maia
(DEM-RJ) e Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que dispõem, hoje, de baixa capilaridade
eleitoral na Bahia.
Isso
pode favorecer candidatos mais à esquerda no estado – governado pelo PT, vale
ressaltar – que poderão emergir com ampla vantagem na Bahia, equilibrando o
jogo no cenário nacional. Sobretudo porque, caso se confirmem tantas
pré-candidaturas, um desempenho muito favorável aqui pode impulsionar o
felizardo para o segundo turno.
Essas
inferências prendem-se à realidade do momento. E, no Brasil de tantas
incertezas políticas, a realidade pode mudar dramaticamente. Está aí, por
exemplo, a recente prisão de Lula, pré-candidato do PT, cujos desdobramentos
sobre o processo eleitoral são imprevisíveis. Estão aí, também, as disposições
autoritárias que fazem sucesso, pleiteando golpe ou intervenção militar.
O
fato é que a desistência de ACM Neto arranhou sua reputação no cenário político
nacional. Com o tempo, as mágoas tendem a ir se diluindo, mergulhando nos
escaninhos da memória. Mas a desistência intempestiva, depois de uma intensa –
e até cinematográfica – expectativa, mostram cautela excessiva e, até, uma
insuspeita insegurança.
Na Bahia, o PT só não
comemorou mais por causa da catástrofe que lançou Lula lá, na carceragem da
Polícia Federal em Curitiba.
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