A
reforma da Previdência subiu no telhado: o tema, impopular em ano eleitoral,
sai de cena. A segurança pública – problema com forte apelo junto à sociedade –
foi alçada à condição de grande mote das eleições 2018. Michel Temer (MDB-SP),
o mandatário de Tietê – que alimenta o delirante sonho da reeleição – decretou
intervenção federal no Rio de Janeiro e, agora, aguarda os aplausos de cariocas
e fluminenses. Caso a medida resulte de fato na redução transitória da
violência, a tendência é que seja replicada em outros estados.
Nesse
novo cenário quem se movimenta com desenvoltura é a bancada da bala, lá no
Congresso Nacional. E começa a se equipar para impor sua agenda ao longo de
2018, aproveitando-se do terror que a violência vem provocando nos brasileiros.
A lista de projetos é extensa e, caso avance, vai, na prática, significar a
revogação do estatuto do desarmamento.
O
discurso beligerante, da autoafirmação pela força das balas, é verniz para
encobrir o poderoso lobby da
indústria bélica, aqui e lá de fora. Essas empresas financiam candidaturas, labutam
pela comercialização, porte e posse de armas e são beneficiárias do discurso do
terror nos centros urbanos. E, evidentemente, principais interessadas no apelo
pela liberação da venda de armas.
Há,
já, projetos engatilhados que podem ser votados em breve. Entre as hipotéticas
mudanças, está a redução da idade mínima exigida para a posse de 25 para 21
anos e a dispensa da comprovação da necessidade de dispor da arma. Atualmente,
há outras exigências como comprovar residência e emprego fixo, ausência de
antecedentes criminais, além de não ser investigado em inquérito e apresentar
capacidade técnica e aptidão psicológica para manusear arma de fogo.
Cidadão armado
Revogando
esses obstáculos, vai ficar moleza conseguir uma arma de fogo para “se defender
dos bandidos”. Como o cidadão se julga mais inseguro nas ruas que em casa, não
vai hesitar em sair armado por aí, mesmo sem a permissão formal. Na tensão das
grandes cidades, desavenças no trânsito começarão a ser resolvidas a bala, como
era muito comum no passado, quando havia mais facilidade para comprar arma.
Mas
não vai parar por aí: os finais de semana também ficarão arriscados. O som alto
do vizinho, um mal-entendido no meio da farra, um olhar indiscreto para a
mulher do outro, uma dívida, rixas pessoais, tudo poderá ser resolvido indo
buscar o revólver em casa, rapidamente. Hoje, inclusive, não é difícil
encontrar episódios do gênero no noticiário. Mas isso vai se tornar ainda mais
comum.
Reza
o senso das ruas que, com arma em casa, o cidadão pode se defender da
malandragem. São raros os registros do gênero: o mais comum é a reação do
criminoso e a morte de quem tentou reagir. Ou a execução – o que também é crime
– daqueles que, suspeitos de roubos e assaltos, são surpreendidos numa
emboscada e eliminados.
Arsenal
inesgotável
Para
as facções e os criminosos avulsos, a liberalização do comércio de armas vai
trazer vantagens sob duas perspectivas. A primeira é que um enorme arsenal vai
ser apropriado pelos marginais das vítimas dos assaltos. Por outro lado, nada
vai impedir que, mobilizando um exército de laranjas, os criminosos não tenham
acesso legal ao armamento.
Protegidos
por exércitos de capangas, jagunços e trogloditas, a salvo em possantes
automóveis blindados, encastelados em fortalezas com vigilância eletrônica,
parlamentares e empresários do setor têm poucas preocupações. Seguirão agadanhando
benesses com a prometida prosperidade da indústria da violência. Muitos, caso
queiram, podem mudar de País.
O cidadão comum, porém, vai
seguir engordando as tristes estatísticas de homicídios e latrocínios. Foram
mais de 60 mil somente no ano passado. Quantos seriam, caso houvesse a almejada
ampla liberdade na venda de armas? Provavelmente muito mais. Mas isso é
irrelevante: o que importa é aproveitar 2018 para atender a bancada da bala, já
que as do boi e do dízimo foram fartamente atendidas desde que o mandatário de
Tietê ascendeu à presidência da República, após a rasteira no petismo.
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