Dizem que, no Brasil, o ano só
começa depois do Carnaval. Se a máxima é verdadeira, 2018 vai começar muito mal
para o trabalhador brasileiro: é que, já na próxima semana, o MDB de Michel
Temer, o mandatário de Tietê, pretende colocar em discussão a fatídica reforma
da Previdência. Os votos escasseiam em ano eleitoral, mas, mesmo assim,
pretendem insistir, forcejar até o último instante. Afirma-se que faltam votos:
mas o contestado governante insiste, nem que seja para arrebatar a simpatia do
mercado financeiro.
Apesar das ameaças sombrias,
enxerga-se escassa reação à investida, até aqui. A novela é antiga: aconteceu
durante a aprovação da reforma trabalhista, ano passado, mas também em 2016,
quando aprovaram a emenda constitucional do teto de gastos. Nesse intervalo, as
centrais sindicais só se mexeram – mesmo assim, com resultados pífios – para
tentar salvar o pescoço de Lula (PT), cuja pré-candidatura levou a breca.
Dizem que, nos aeroportos,
deputados estão sendo abordados para se posicionar contra a reforma por
integrantes das centrais sindicais. É pouco: esses conchavos de corredor talvez
funcionem quando se está desfrutando do poder, com caneta na mão.
Trafegar pela oposição exige
sintonia com as ruas e mobilização popular. Possivelmente, o vício do poder
contaminou o modus operandi dos
sindicalistas. Prometeram greve para segunda-feira, mas ninguém sabe se vai
acontecer. Afinal, em dezembro, Michel Temer prometeu liberar dinheiro e parte
das centrais sindicais suspendeu a greve.
No geral, o brasileiro rechaça
a reforma da Previdência do sofá de casa, compartilhando postagens de redes
sociais, curtindo reportagens ou catilinárias que desancam governantes,
iniciativas cujos efeitos práticos são desprezíveis. Mas, mesmo com reação
tímida, tudo indica que o mandatário de Tietê e seu consórcio político não vão
conseguir aprovar a reforma. Pelo menos por agora.
Novembro
Isso não significa, porém, que
mudanças na Previdência estão descartadas e que só o próximo presidente – seja
ele quem for – retomará o tema, lá adiante, legitimado pelas urnas. Ao
contrário: já há quem fale, matreiramente, que a votação pode acontecer em
novembro, depois das eleições, sabe Deus com que tipo de resultado extraído das
urnas.
Nos estertores do governo, com
no mínimo 100 deputados sem mandato renovado, a tentação é grande, porque os
preços – na barganha habitual – devem declinar absurdamente. E, quem
eventualmente permanecer, vai apostar em longos quatro anos fazendo efeito
sobre a memória curta do eleitor. Talvez o momento, lá adiante, seja ainda mais
desfavorável para o trabalhador.
Seria necessário, portanto,
mobilização desde já para barrar os termos da proposta atual e começar a
discutir uma reforma menos danosa aos interesses do brasileiro. É evidente que
a Previdência precisa de mudanças para garantir sua sustentabilidade no longo
prazo, mas tocadas por um governo respaldado pelas urnas e que promova mudanças
que estabeleçam regras que valham para todos.
Os militares das Forças
Armadas, por exemplo, escaparam da proposta e ninguém fala sobre os termos de
um projeto de lei que estenda, a eles também, essas mudanças. Provavelmente,
porque Michel Temer – traiçoeiro arquiteto da rasteira no petismo – sempre temeu
uma quartelada que o desaloje do poder, como já foi a regra na América Latina.
A propaganda oficial diz que a reforma vai igualar a todos, mas é mentira, já
que os militares, grandes responsáveis pelo déficit, permanecerão de fora.
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