A
Semana Santa costuma ser um período de celebração religiosa, de espíritos mais
desarmados, de reflexão sobre o sofrimento de Jesus Cristo. Na Sexta-feira da
Paixão – apesar do jejum e do silêncio dos católicos mais fervorosos – o baiano
costuma celebrar com mesa farta e não falta quem se arrisque a abrir uma
garrafa de vinho tinto. Não é raro as reuniões se estenderem pela tarde, às
vezes invadindo a noite, com música, risos e muita conversa. Famílias e amigos
próximos integram essas celebrações.
Os
próximos dias prometem ser de movimento intenso pelos supermercados, pelas
feiras-livres dos bairros e, sobretudo, no Centro de Abastecimento. É nesses
locais que se compram o peixe e o dendê, a cebola, o tomate e o pimentão para preparar
a moqueca, o quiabo para o caruru e os condimentos que vão dar sabor ao vatapá.
Os
preços da castanha, do camarão seco e do gengibre vão subindo ao longo da
semana, aproveitando a demanda mais elevada. Mas, apesar da crise, do
desemprego e do desalento, o baiano costuma investir na celebração, vivê-la com
fartura. Depois, semana que vem, volta-se à luta áspera pela sobrevivência e ao
preocupante noticiário político.
Candidatos
a cargos eletivos devem se afastar semana que vem, quando também finda a janela
partidária, intervalo para que os políticos troquem de partido. São fatores que
vão contribuir para clarear um pouco o turvo cenário eleitoral. Mas esses são
marcos legais: estão previstos na legislação e, no máximo, trarão algumas
novidade em relação ao reposicionamento dos atores na cena política.
Tensão
O
que há de novo – e que se arrasta há mais de três anos – é a tensão política.
Em sua recente incursão pelo Sul do Brasil, Lula foi hostilizado em diversos
momentos: a caravana, que busca mantê-lo em evidência no cenário político, foi
apedrejada e alvo de atiradores de ovos. Pelo visto, trata-se de um prenúncio
do clima de ódio que vai prevalecer nas eleições.
A
execução da vereadora do PSOL carioca Marielle Franco também foi sintomática do
ódio predominante no País. Não faltou quem celebrasse o assassinato em redes
sociais e nem quem propagasse uma série de mentiras sobre a vítima. Em ambos os
episódios, demarcar posições implica, inclusive, em recorrer à violência ou festejar
uma morte.
A
essas alturas, as milícias digitais – que certamente contarão com o reforço de
robôs – devem estar se equipando para destilar bílis, propagar a divisão,
ampliar as fraturas na sociedade. Não falta quem se engaje nessa empreitada com
entusiasmo: afinal, o desdobramento histórico em processos do gênero são
regimes de exceção e ditaduras, conforme tanta gente anseia hoje no Brasil.
As eleições de 2014 e o impeachment de Dilma Rousseff (PT), dois
anos depois, foram muito ilustrativos do ódio que viceja no Brasil. Os sinais
indicam que, em 2018, haverá ainda mais ódio, mais cisão, menos diálogo e
nenhuma disposição para superar o impasse no qual o País mergulhou nos últimos
anos. Vivemos, indiscutivelmente, numa sociedade dividida. Nessa marcha, lá
adiante, rupturas serão inevitáveis, seja de que forma for.
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