Dizem que
essa vem sendo as eleições em que as redes sociais assumiram protagonismo
definitivo em relação a veículos tradicionais, como o rádio e a televisão. Tudo
indica que sim. Resolvi acompanhar atentamente alguns grupos criados em
aplicativos de celular – à direita e à esquerda – para tentar entender parte da
dinâmica que move esse turbulento período eleitoral no Brasil. Apesar da
festiva celebração da novidade, há muita coisa deplorável que não dá para ser
ignorada.
Uma delas é
proliferação de mentiras, ataques, insultos – as afamadas fake news – que em nada contribuem para o debate político e que,
pelo contrário, ajudam a insuflar esse ódio que aflorou e está aí, à vista de
todos, há alguns anos já. Dado o afã no compartilhamento desse conteúdo – e nos
comentários – percebe-se que é o que mais faz sucesso.
Além da
disseminação de mentiras, há a disposição beligerante. Menos comum em
aplicativos de celular – cujos grupos costumam reunir exclusivamente os
acólitos de determinadas ideias – os embates encarniçados costumam produzir
pouca coisa além de ódio e intolerância. Quem, no futuro, quiser entender as
fraturas que apartam hoje os brasileiros, não poderá deixar de dedicar atenção
especial a essa dimensão.
Ao contrário
do que supõe o senso comum, a interação e o pretenso diálogo produzem pouca
coisa aproveitável nesses ambientes. Preconceito, xingamentos, raciocínios
rasos e mais ódio – o tempero indispensável nesses espaços – costumam prevalecer.
Além, é claro, da constrangedora exaltação dos líderes políticos – algo nem tão
distante da fé religiosa – e de suas exaltadas virtudes.
Redes sociais
Muita gente
já observou que, no universo das redes sociais, existe pouca diversidade.
Aquelas combinações de algoritmos conduzem o indivíduo, necessariamente,
àqueles que compartilham de suas ideias ou de seus valores, tornando-o
refratário ao que diverge de suas convicções. Naturalmente propenso a esse
comportamento, o ser humano encontra aí um incentivo adicional.
Enfim, esses
aplicativos são muito eficientes para se mandar um recado, combinar um
encontro, repassar uma informação qualquer, até mesmo fazer propaganda
direcionada. Debate político se faz noutras instâncias – sobretudo olho no olho
–, contrariando o que defendem alguns experts
da comunicação de plantão. A ditadura da modernidade, porém, constrange essa
constatação.
Não se trata
aqui, evidentemente, de tentar renegar essas mídias, cuja presença é irrevogável.
Mas é necessário reconhecer que elas apresentam limitações que exigem aprimoramento.
No limite, podem colocar em xeque a trôpega democracia contemporânea. Afinal,
embora não sejam a causa do ódio, são amplificadoras importantes desse
sentimento. E valioso instrumento para os oportunistas que se valem de sua
capilaridade e ausência de filtros para disseminar mentiras.
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