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Recessão segue esquecida nas eleições presidenciais

“Vende-se”. “Fulano Vende”. “Aluga-se”. “Aluga”.
Placas com essas sentenças curtas estão espalhadas por toda a Feira de Santana. Mas não somente por aqui: quem dispõe da oportunidade de fazer uma longa viagem rodoviária – sobretudo atravessando mais de um estado e, sobretudo, distintas regiões do País – consegue perceber que anúncios do gênero constituem regra. A amplitude é democrática: vai dos pequenos lugarejos esquecidos pelo sertão até as badaladas metrópoles do Sudeste do Brasil.
Nos grandes centros urbanos, a propósito, o apelo é mais aflito: começa nas regiões industriais à margem das rodovias e vai se insinuando pelos adensamentos periféricos, alcançando até mesmo aqueles bairros badalados que figuravam nos encartes imobiliários das publicações.
Indústrias desativadas, sedes extintas de grandes empresas, galpões que acomodavam fartos estoques que giravam vertiginosamente: tudo vai assumindo ares melancólicos com o abandono, a pintura que se apaga, as instalações que acomodam densas camadas de poeira e, sobretudo, com as placas ofertando esses espaços para improváveis empreendedores nesses tempos de tormentosas incertezas econômicas.
Mais aflitiva ainda é a realidade de quem se vira mercadejando pelas ruas, pelas praças, pelas repartições públicas, pelos escritórios das empresas. Sem emprego, muitos investem suas reservas numa guia que garanta, pelo menos, o pagamento de despesas modestas, como as contas de água, de energia elétrica e o botijão de gás que vem se tornando artigo de luxo nos últimos tempos.
Mas, apesar dessa hecatombe econômica – que nesse último trimestre completa quatro temporadas em cartaz – fala-se pouco dela no horário eleitoral. Quem ajudou a provocá-la se insinua discretamente, desconversando, recorrendo a versões criativas da realidade. Outros recorrem a platitudes, a símbolos pátrios para tangê-la, para evitar o tema incômodo, que enodoa a beleza dos programas eleitorais.
Nem mesmo quem pega em lanças no conflagrado ambiente virtual concentra esforços na recessão. Prefere investir em golpes abaixo da linha da cintura, mentiras, calúnias, fofocas, ameaças. É isso que circula com velocidade vertiginosa e desperta reações, debates e – sobretudo – compartilhamentos que vão espalhar adiante o pestilento clima de ódio que interdita qualquer debate.
Sob o provavelmente escaldante janeiro será possível começar a exumar a omissão em relação às questões econômicas na sucessão presidencial. Quem vencer, espertamente, vai tangenciar a alegação de que praticou “estelionato eleitoral”, já que pouco se comprometeu com o que quer que seja. E, os derrotados, vão brandir suas soluções, alegar que o caminho era outro.
Tanta lambança sinaliza que no médio prazo as instabilidades, no mínimo, permanecerão acesas. Isso se não sobrevier coisa pior, seja de que forma for.

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