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Apesar do bombardeio, Bolsonaro marcha para o segundo turno

Somente agora começou, de fato, o esforço de desconstrução da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que até aqui lidera a sucessão presidencial. Os últimos dias têm sido prenhes de manchetes apelativas que, não raramente, bordejam a baixaria: declarações polêmicas, ameaças e até o suposto roubo de um cofre integram o arsenal que alveja o candidato da extrema-direita abaixo da linha da cintura. Só que faltam menos de dez dias até as eleições e virar o jogo, a essas alturas, não é tão fácil.
Não são só os adversários e a imprensa que despejam sua artilharia sobre o candidato. O próprio vice – o afamado general Hamilton Mourão – não para de torpedear a candidatura com declarações bombásticas. A última foi questionar o 13º salário e a antecipação de férias pagos aos trabalhadores.
O militar aposentado fez mais: prometeu uma reforma trabalhista “séria”, como se o desmanche promovido por Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, fosse pouca coisa. Para pesar dos adversários, o general Mourão prometeu ficar calado até o primeiro turno da eleição. Caso o faça, talvez preste uma inestimável colaboração a Jair Bolsonaro,  que capitaneia a “dobradinha”.
São visíveis, também, os problemas relacionados às propostas para a economia. O festejado “Posto Ipiranga” – o economista Paulo Guedes, alçado à condição de guru do candidato – maneja um enigmático misticismo liberal, limitando-se a prometer, abstratamente, privatizações e redução do tamanho do Estado. Num raro momento em que trafegou pelo concreto, anunciou a recriação da CPMF e uma alíquota única do Imposto de Renda, o que alveja exatamente os mais pobres.

Estabilidade

A completa vacuidade de ideias para retirar o País da recessão, as declarações polêmicas repisadas e o bate-cabeças do staff de sua campanha foram incapazes de demover o eleitorado que pretende votar em Jair Bolsonaro. No máximo, o que houve, até aqui, foi a estabilização da intenção de voto num patamar confortável.
O bombardeio dos últimos dias mostra que o foco mudou: centra-se a munição na vida pessoal do candidato, buscando-se tocar seus eleitores com um pitoresco apelo moral. Ninguém sabe se isso pode dar certo, mas é patente que quem deseja removê-lo do segundo turno recorre a uma estratégia desesperada. O movimento, porém, não se esgota em desidratá-lo: é necessário alçar um dos nomes do “centro” que, por enquanto, não empolgam.
Para amanhã (29) estão programadas manifestações de mulheres em inúmeras cidades brasileiras contra Jair Bolsonaro. É um impulso a mais no movimento que pretende impedir sua ascensão à presidência da República. Pelo que se comenta, a adesão tende a ser significativa. Mas – é preciso ressaltar – o prazo se tornou exíguo para movimentação tão intensa do eleitorado.
Tudo caminha para um segundo turno entre os chamados “extremos”: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o poste eletrificado por Lula. Anos de aposta na radicalização, no ódio e na divisão só poderiam resultar em cenário do gênero. É até ingênuo acreditar que o apelo à ponderação – leia-se eleger um nome do chamado “centro” – seria um desdobramento natural dessa cizânia.
O fato é que é difícil, a essas alturas, tirar Jair Bolsonaro do segundo turno. Mesmo que Mourão rompa o “silêncio obsequioso” que se impôs.

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