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Mulheres definirão rumos das eleições 2018

A manifestação de centenas de milhares de mulheres Brasil afora, no sábado (29), contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), foi o maior ato político das turbulentas eleições presidenciais de 2018. Dois aspectos – entre muitos – chamam mais a atenção. Um deles é que o ato foi contra e não a favor, inequívoco sintoma de que, nessas eleições, as pessoas se guiam mais contra aquilo que repudiam que, propriamente, a favor de algum dos nomes disponíveis no cardápio eleitoral, que não são dos mais empolgantes.
O outro aspecto é que a mobilização para o ato foi espontânea – e alavancada pelas redes sociais – sem a mediação de partidos, centrais sindicais, sindicatos ou outras entidades que estão mais do que desgastadas nesses últimos tempos e que, atualmente, se limitam a mobilizar meia-dúzia de gatos pingados. E olhe lá. Certamente foi por isso que houve adesão mais consistente, sem as resistências que os partidos hoje despertam.
A imprensa tradicional dedicou pouco espaço ao ato. Mas, pelas redes sociais, circularam imagens impressionantes da ladeira da Barra, em Salvador, da Cinelândia, no Rio de Janeiro, e do largo da Batata, em São Paulo, por exemplo. Em todas elas havia multidões. Talvez seja essa reação feminina que injete alguma esperança de futuro ao Brasil no médio prazo, pois as crises entrelaçadas – econômica, política e ética – vêm minando toda e qualquer confiança.
Na Feira de Santana as mulheres também deram seu recado, no ato realizado na manhã de sábado. Depois da concentração defronte à prefeitura, foram percorridas algumas das principais vias do centro da cidade. Nessa marcha, o repúdio à figura de Jair Bolsonaro – cujo nome sequer foi citado – reverberou de forma inédita nesse frio processo eleitoral.

Juventude

Há cinco anos, desde 2013, acompanho esses atos políticos aqui na Feira de Santana, em Salvador e, eventualmente, em São Paulo. Neles, noto uma maciça e alvissareira presença juvenil. Sábado, muitas jovens – e rapazes também – enfrentaram o calor rígido para vocalizar seu descontentamento e dar seu recado. É outra boa notícia: apesar desses tempos nefastos, não falta sangue novo para resistir ao obscurantismo.
O engajamento, evidentemente, se dá noutro patamar. Nada das bandeiras, dos chavões, das estruturas verticalizadas dos partidos tradicionais, cujo modus operandi envelhece, embora suas lideranças não queiram perceber. Em 2013 foram os jovens que abalaram as estruturas políticas do País com suas manifestações e, em 2018, pelo jeito, serão as mulheres que vão mudar o rumo das eleições presidenciais.
Dificilmente Jair Bolsonaro não estará no segundo turno. Mas é altamente improvável que prevaleça no round final, seja contra quem for. Em grande medida, isso vai se dever não aos operadores da política tradicional com seus balcões e suas negociatas inconfessáveis, mas à consciência feminina que vai impor um freio a ideias que parecem ter sido extraídas da Idade Média.
É bom que as mulheres estejam se posicionando. Afinal, o clima conflagrado que o País vive desde 2014 não vai se dissipar com as eleições e exigirá muito mais do brasileiro que o mero comparecimento às seções eleitorais para votar. O ódio e o ressentimento – densos, quase palpáveis – estão aí no ar. É bom contar com a sensibilidade feminina para ajudar a dissipá-lo.

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