Jair
Bolsonaro (PSL) é, indiscutivelmente, favorito no segundo turno das eleições
presidenciais. Afinal, impôs uma larga vantagem no primeiro turno e só não liquidou
a fatura porque os nordestinos votaram maciçamente em Fernando Haddad (PT),
assegurando-lhe um sobrefôlego eleitoral. Não é à toa que o candidato – sem
nenhum pudor – já fala sobre composição de ministério e da ocupação de
postos-chave na administração federal. A cautela costuma ser norma nessas
circunstâncias, mas o candidato está tão convicto do seu sucesso que faz suas
tratativas sem os cuidados de praxe.
Se essa
fosse sua única excentricidade, seria ótimo. Há muitas outras, pra lá de
alarmantes. Uma delas é a relação com o vice na chapa, o general reformado
Hamilton Mourão. Loquaz, o militar defende ideias descabidas – como uma nova
Constituição elaborada por “notáveis” – e não se intimida nem quando é contestado.
Afinal, sua patente é muito mais alta que a do capitão reformado titular da
chapa. Sintoma de conflitos vindouros?
Em matéria
econômica há um enorme vácuo, apesar da terrível recessão que se arrasta há
três anos, que produziu milhões de desempregados e fez o Produto Interno Bruto
– PIB despencar de maneira inédita. Que medidas serão adotadas para reativar a
economia no curto prazo e assegurar estabilidade e fluxos de investimentos no
médio e no longo prazos? Ninguém sabe. O presidenciável e seu guru econômico –
o empresário Paulo Guedes – vivem às voltas com um terrível bate-cabeças.
Não se fala
nada, também, sobre a crônica questão de serviços públicos, como a saúde e a
educação. O candidato, no máximo, repete o assustador discurso do armamento da
população para conter a violência. Quem quiser – e quem puder, porque arma é
cara – que compre um revólver ou uma pistola, porque, tacitamente, o candidato
reconhece que o Estado não pode garantir um mínimo de segurança ao cidadão.
Cada um que cuide de si.
Despreparo
É visível
que Jair Bolsonaro se lança à aventura presidencial sem equipe, sem preparo e
sem, sequer, um discurso articulado. Isso para enfrentar – se é que pretende
isso – uma inédita combinação de crises política, econômica, institucional e
moral. Tudo indica que o País, que claudica desde 2014, tende a seguir trôpego
a partir de 2019, com desdobramentos imprevisíveis no longo prazo.
Mesmo assim,
o candidato despertou um fervor fanático da gente identificada com a
extrema-direita e uma adesão entusiasmada – e inconsequente – de milhões de
desavisados que encorparam a onda conservadora. O que fundamenta tanta devoção?
Provavelmente, uma aversão irracional pela política tradicional e a sedução do
discurso simplista do candidato.
Não é necessária
grande acuidade para perceber que, combinados, esses elementos constituem uma
receita perfeita para o desastre. Crescimento da violência, aumento das tensões
sociais, perseguição às minorias e apelo autoritário – esse sem, sequer, a
máscara eleitoral – são os prováveis desdobramentos dessa aventura que o
brasileiro abraça por aversão ao petismo e à política tradicional.
Petismo
Coordenada a
partir do cárcere de Curitiba – no qual segue preso o ex-presidente Lula –, a
campanha de Fernando Haddad é singular, pitoresca. Nem surpreende tanto que
Jair Bolsonaro tenha obtido uma vantagem tão expressiva. Para começar, o presidenciável
passou mais tempo associando sua imagem à de Lula que, propriamente,
apresentando propostas ou discutindo a grave crise que o Brasil atravessa.
A crise
econômica, aliás, foi atribuída à oposição, numa reinterpretação criativa da
trágica gestão Dilma Rousseff (PT). Essa, inclusive, foi matreiramente
“esquecida” nos programas eleitorais. No mais, o candidato se limitou a exaltar
os feitos dos 14 anos de petismo, ignorando os monumentais escândalos que
corrupção nos quais a legenda se atolou. Sinal de que, no futuro, teríamos mais
do mesmo? Isso deixou muito eleitor ressabiado.
Mas, apesar de tudo, o petismo não tentou
revogar a democracia nos 14 anos em que esteve à frente do País. Ninguém garante
que se poderá dizer o mesmo de Jair Bolsonaro. A palavra “democracia”, a
propósito, figura pouco nos discursos do candidato. Aproveitando o trocadilho
dos seus catecúmenos, é bom “já ir” se preparando, porque o futuro imediato do
País tende a ser dos mais ásperos.
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