Lentamente o verão vem se aproximando. O indício
mais visível é o aumento médio da temperatura. Desde meados de julho que o sol
se impõe, radioso, em manhãs e tardes que foram, aos poucos, se tornando incandescentes.
Houve dias abrasadores – via-se pouca gente circulando pelas ruas – e, logo a
seguir, vieram chuvas tímidas que, pelo menos, atenuaram o calor. Mas as
temperaturas elevadas estão retornando e devem se estender, no mínimo, até o mês
de março.
Quem é de olhar o céu, porém, vê a
proximidade do verão sob outra perspectiva. Começa pelo alvorecer, que vai se
antecipando, encurtando a madrugada, despertando os pássaros que cantam em álacre
sintonia. É quando a luz do sol atinge as copas das árvores com uma luz alaranjada,
irreal, ainda cálida.
Depois – durante quase todo o dia – o azul
assume uma tez esbranquiçada, que reflete a luminosidade estonteante. Só lá
pelo meio da tarde em diante – depois das 15 horas – é que o espetáculo se
aproxima do clímax, com o astro dourado declinando, mergulhando a oeste, nas
cercanias de Bonfim de Feira ou de Ipuaçu.
Há dias em que nuvens azuladas e acinzentadas,
esparsas, atrapalham, suprimem o espetáculo. Mas sempre há tardes de céu
perfeitamente limpo: é aí que o espectador deve tomar fôlego, porque a exibição
de cores e de luzes é indescritível na porção do poente.
Mesmo milhares de observações, minuciosas,
sempre serão insuficientes para traduzir, com pálida exatidão, o amálgama do
vermelho e do amarelo do poente sertanejo. A esfera cor de cobre, bela,
imponente, incandescente, descendente, por fim mergulha detrás da campina
espinhosa, deixando atrás de si um indefinível sentimento de grandiosidade. Depois
vem, lentamente, a escuridão e as acanhadas luzes citadinas, que espantam
fragilmente a escuridão.
Esse espetáculo é mais deslumbrante no verão,
já que o sol mergulha, burocrático – quase sempre entre nuvens –, nas demais
estações. E, mesmo no verão, às vezes, há nuvens. E, quando não há, nem sempre
o cidadão atarefado tem tempo de apreciá-lo em toda a sua duração. Afinal, as
intensas ocupações da vida limitam esse deleite aos dias de folga, isso quando
se está num ângulo privilegiado de observação.
É verdade que há quem não enxergue beleza nem
no nascer do sol, nem quando ele mergulha no poente. Os movimentos da lua – com
sua ascensão majestosa nos inícios de noite, sob o céu esverdeado – também são
indiferentes. Para muitos, no máximo, servem para demarcar o compasso das
horas.
Nesses
tempos atrozes, constituem espetáculo – pelo menos por enquanto – gratuito, mas
só para quem dispõe desses escassos minutos de folga. De qualquer forma, o verão
vai se aproximando e, com ele, a expectativa da repetição desse alumbramento diário.
Nele, por alguns instantes, é possível esquecer as agruras que tornaram
nefastos os dias que se sucedem.
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