O Mercado de
Arte Popular, o popular MAP, constitui um dos espaços mais interessantes para
se frequentar na Feira de Santana. Quem visita aquela edificação antiga – o ano
gravado na fachada é de 1914, mas foi formalmente inaugurada em 27 de março de
1915 -, originalmente utilizada como mercado público ao longo de boa parte do
século XX, não se impressiona apenas com suas colunas toscanas intocadas ou com
suas fachadas envolvidas em arcos, que dão acesso aos boxes. Mais
impressionante é a diversidade humana que percorre seus corredores.
Para
começar, é ampla a variedade de produtos oferecidos por seus comerciantes. Ali
se encontra desde o cordel até as tradicionais lembranças da Bahia: os
coqueiros, o capoeirista, a baiana paramentada, às vezes cangaceiros que fazem
alusão ao sertão. Mas há também incontáveis opções para quem aprecia vestuário
alternativo, nos boxes, além da suculenta maniçoba cujo aroma magnetiza quem
circula por ali.
Nas
cercanias do mercado o movimento é frenético: no calçadão no fundo, misturam-se
relojoeiros, chaveiros, lojas de artigos para cozinha, além de uma variada
fauna de consumidores e passantes que tornam aquela artéria agitada. Os becos
laterais, por sua vez, abrigam diversidade igualmente abrangente: de roupa a
acessório para celular, de antenas a mídias digitais é possível encontrar de
tudo.
Há também quem
passe vendendo, exercendo o penoso ofício de ambulante. Carteiras, cintos,
adesivos, chaveiros, bombons, trufas ou quinquilharias chinesas, são
incontáveis as opções. Uns passam apregoando seus produtos; outros circulam
silenciosos, fazendo abordagens discretas; em muitos, é possível intuir uma
ponta de amargura com a rotina ou os lucros escassos.
Encontro
Mas o
Mercado de Arte Popular é local de afluência. Talvez por isso prevaleça a saudação
ruidosa daqueles programas combinados – sobretudo aos sábados, quando o
entreposto regurgita – e a alegria fortuita dos encontros casuais. Muitos papos
animados se desdobram em brindes com a cerveja gelada vendidas nos boxes, em maniçoba
compartilhada como tira-gosto.
É muito
diverso o perfil de quem frequenta o entreposto. Há idosos sisudos, saudosos da
Feira de Santana antiga, que renovam o ânimo percorrendo os corredores do
mercado; há quem vá ao centro da cidade resolver pendências e se retarde por
ali, aproveitando para almoçar nos restaurantes baratos; e há a juventude com
visual alternativo, que vai se divertir com as apresentações musicais no palco.
Um exame
atento permite constatar que o Mercado de Arte é um dos espaços prediletos de
muitos afrodescendentes feirenses. Vários frequentam o entreposto, além dos
jovens engajados na cultura, outros que frequentam o meio acadêmico, além dos
artistas, dos artesãos, dos capoeiristas e, nos sábados mais animados, do
pessoal do samba de roda. Essa predileção contribui para efervescência do
espaço.
Conversas
Nesses
tempos de crescentes contatos meramente virtuais, não falta ali quem aprecie um
papo à moda antiga: frente à frente, olho no olho. Muito debate surge
espontaneamente nessas tardes festivas, pois é onde as redes de relacionamento
se conectam – os artistas, os acadêmicos, os jornalistas, os políticos – e
qualquer centelha de conversa deflagra papos que se estendem noite de sábado
afora.
Embora mais
raros, encontros casuais sempre aconteceram ali naqueles corredores, por onde
circula muita gente todos os dias. Mas as apresentações musicais nos sábados –
que costumam prestigiar os artistas locais – contribuem para a afluência maior,
para uma maior integração entre muitos feirenses e aquela vibrante arena da
cultura local. É uma iniciativa que deve ser preservada e reconhecida.
Há décadas se fala da escassez de espaços
culturais na Feira de Santana. Isso vem mudando, felizmente: muita gente jovem
vem se engajando em diversas manifestações artísticas, os espaços se ampliaram
e – mesmo ainda embrionário – há um incipiente processo de formação de público.
Mas é necessário mais. Nesse processo, o Mercado de Arte Popular pode exercer
um papel ainda mais relevante.
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