Pular para o conteúdo principal

Quem é contra o aumento para a elite política feirense?

Originalmente publicado em Out/2020

Será que algum dos candidatos à prefeitura da Feira de Santana é contra o reajuste salarial aprovado para o chefe do Executivo ano passado? Cultivo a dúvida desde o começo da campanha. Quem vencer a peleja de novembro vai entrar em 2021 com o bolso turbinado: R$ 26,7 mil mensais, bem mais que os R$ 18 mil pagos atualmente ao prefeito. Percentualmente, é um salto de 44,4%. O aumento foi aprovado em junho do ano passado – às vésperas do São João – para antecipar o desgaste, incinerá-lo nas fogueiras juninas.

Não é só o prefeito que vai se dar bem, não: os vereadores também serão agraciados com remuneração maior, embora com percentual mais modesto. Passarão dos atuais R$ 15 mil para R$ 18,9 mil. A farra, obviamente, não se encerra aí: os secretários municipais morderão os mesmos R$ 18,9 mil. Nem a pandemia da Covid-19 constrangeu as excelências a revogar a excrescência.

Quem acompanha o horário eleitoral fica até desnorteado com tanta proposta dos ariscos postulantes ao Paço Municipal. Há ideias factíveis, dignas de elogios. Outras merecem figurar no rico anedotário que se avoluma a cada eleição. A única coisa que une todo mundo – situação e oposição num mesmo balaio – é a má vontade de discutir os privilégios da classe política. O que inclui, claro, o generoso e indecente aumento autoconcedido.

Nota-se a mesma amnésia em relação aos candidatos à Câmara Municipal. Muitos são bizarros, tornam a campanha um deplorável quadro de humor. Entre eles – apesar da retórica carbonária de tantos, prenhe de moralidade, de ética, de elevadas intenções – não se toca na delicada questão dos privilégios do Legislativo. Pelo contrário, muitos contêm a custo a afoiteza de desfrutar dessas regalias. Mesmo vomitando bons costumes.

É bom lembrar que o Brasil está apenas começando a enfrentar os terríveis efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. Recessão, desemprego, congelamento de salários e até cortes nos rendimentos tornaram-se rotina desde meados de março. Mas, pelo que se vê, só para o povão: aqui na Feira de Santana, dissimuladamente, a elite política aproveita para turbinar seus contracheques.

Depois vão para o horário eleitoral falar de gestão, competência, transparência, responsabilidade e muitos eteceteras. É bom votar só em quem assumir – publicamente – o compromisso de revogar esse reajuste indecoroso. Imagino que muito feirense pensa desta forma. Caso a indecente dissimulação prevaleça, certamente ela estimulará mais abstenção nas eleições.

Se isso ocorrer, não faltará cego atribuindo o desinteressa da população à pandemia da Covid-19...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...