Enquanto
Jair Bolsonaro, o “mito”, desfila Brasil afora em sua apoteótica campanha antecipada,
o brasileiro médio – aquele que conhece o sufoco do dinheiro curto – pena para
colocar comida na mesa. Aqui na Feira de Santana não é diferente. Em agosto, o feirense desembolsou 38,65% do
valor do salário mínimo (R$ 966,63, quando se desconta a contribuição
previdenciária) para adquirir os 12 itens que compõem a cesta básica. Exatos R$
373,61. Há um ano, em agosto, era menos: 34,03%.
O
2020 da pandemia da Covid-19 acumula alta de 14,96% nos preços dos itens da
cesta básica aqui na Princesa do Sertão. O trivial do almoço do brasileiro
registrou ascensão vertiginosa ao longo do ano: o arroz saltou 29,14%, o feijão
pulou 20,64% e o preço da carne – cujo valor intimida o feirense defronte os
açougues – subiu 17,53%. Até o prosaico tomate, tão comum nas saladas e no
tempero do dia-dia, disparou: 21,94% de reajuste.
Todos
estes números integram o levantamento realizado mensalmente pelo projeto
“Conhecendo a Economia Feirense: Custo da Cesta Básica e Indicadores Socioeconômicos”,
promovido por professores e estudantes do Departamento de Ciências Sociais
Aplicadas (Dcis) da Universidade Estadual de Feira de Santana, a Uefs.
A
elevação dos preços dos alimentos penaliza, sobretudo, os mais pobres. Afinal,
boa parte da renda deles vai para a aquisição de comida. O custo da cesta
básica, porém, pressiona também os indicadores inflacionários mais amplos e
isso já vem interferindo nos humores até do “deus mercado”. E qual é a posição
de Jair Bolsonaro, o “mito”, sobre tudo isso? Limitou-se a cobrar “patriotismo”
dos donos de supermercados.
Quem
ansiava pelas delícias do liberalismo deve estar alcançando altos orgasmos financistas.
Afinal, no campo, áreas destinadas ao plantio do feijão e do arroz estão
encolhendo para a disseminação da soja, cujos preços lá fora são bem mais
atrativos. É a lei inexorável da economia aberta, dos racionais movimentos do
“deus mercado”. Produz-se para quem paga mais, sem essa coisa jeca de
“patriotismo”.
Como
consolo, não faltarão sábios advertindo que quem vive com grana curta e
assombrado pelas carências materiais não foi “competente” ou “esforçado” o
suficiente para prosperar. É, em suma, um fracassado. Talvez, para disfarçar, o
“mito” siga acenando com “patriotismo” para entreter a patuleia. Difícil,
mesmo, vai ser ele apontar o dedo para os barões do agronegócio...
Seis
meses depois do começo da pandemia, o País não dispõe de uma proposta de
retomada da economia. Sob pressão do Congresso Nacional e de segmentos mais
esclarecidos da sociedade, instituiu-se um auxílio emergencial de R$ 600. Só
que, a partir de setembro, o valor cai para R$ 300 e só vigora até dezembro.
Com a economia em cacos e sem projeto de médio prazo, a situação tende a ficar
muito mais difícil.
Com
muita gente sem renda – ou com renda declinante – e com preços em disparada,
2021 promete ser mais um ano de intensas turbulências. Nada muito diferente,
porém, do que vem acontecendo por aqui há quase uma década...
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