Pular para o conteúdo principal

Campanha eleitoral começa junto com os primeiros sinais do verão

Originalmente publicado em Set/2020

Sábado e domingo o sol se pôs com céu limpo na Feira de Santana. Bancando esfera incandescente, o astro mergulhou sob um silêncio solene que só os pios dos pardais, às vezes, profanavam. Pelos sertões, como aqui, o espetáculo é sempre soberbo. Sobretudo a partir da primavera, quando o verão vai se avizinhando. Sons de verão, a propósito, já há por aí: sábado ouvi o canto aflito, mas breve, de uma cigarra numa palmeira imperial; no silencioso começo da tarde de domingo, foi a vez de um sabiá saudar o azul e o sol num galho de mangueira.

O final de semana, porém, não foi marcado só pelos primeiros sinais do verão. Buzinas, bandeiras, músicas, carreatas e discursos marcaram o começo da campanha eleitoral na Feira de Santana. Candidatos à prefeitura e à Câmara Municipal lançaram-se às ruas, afugentando por instantes o silêncio e a quietude comuns nesses tempos de pandemia da Covid-19.

“Mudança”, pelo jeito, vai ser palavra-chave nas eleições 2020 por aqui. Pelo menos para a oposição, que começou martelando, apostando no cansaço do eleitor com o grupo político do ex-prefeito José Ronaldo de Carvalho (DEM), que está há 20 anos no poder. Há pesquisas indicando esta tendência? Talvez levantamentos qualitativos sinalizem isso. O fato é que o discurso da “renovação” surge como mote eleitoral.

Diversas pesquisas, recentes, apontam para um cenário indefinido, sem favoritismo claro. E as mudanças nas regras eleitorais – acabaram-se as coligações partidárias na eleição proporcional – trazem mais incerteza que, lá na frente, podem se traduzir em novidades na composição do Legislativo. Muito candidato neófito aposta nisso, acreditando numa renovação mais ampla da Câmara Municipal.

Além do prefeito Colbert Martins Filho (MDB), que tenta a reeleição, há outros oito postulantes ao Paço Municipal. Entre eles, deputados federais – José Neto (PT) e Dayane Pimentel (PSL) –, o deputado estadual José de Arimateia (Republicanos) e o vereador Roberto Tourinho (PSB). Há, também, o ex-deputado estadual Carlos Geilson (Podemos). Três não exerceram, antes, mandato político: Marcela Prest (PSOL), Carlos Medeiros (Novo) e o empresário Nelson Roberto (PRTB), o Rei Nelsinho.

Com tanta gente experiente, fica a expectativa de um debate qualificado. E que as questões que afligem a Feira de Santana sejam debatidas com a profundidade necessária. Neste primeiro dia, prevaleceram as inevitáveis apresentações, os clichês. A partir daqui, é bom que o debate se dê num nível elevado. Sobretudo porque a Princesa do Sertão – e o próprio País – vivem um momento muito grave, decorrente da pandemia da Covid-19 e do caos político em Brasília.

É bom ninguém se enganar: o próximo prefeito da Feira de Santana vai enfrentar um mandato duro, marcado por inúmeras dificuldades...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express