Depois
de muito tempo, ontem (10) o sol se pôs sem nuvens na Feira de Santana. Aquela
aquarela que se acende quando o céu está limpo finalmente retornou, soberba. Nela,
tons azuis, amarelos, vermelhos, esbranquiçados, se sucedem, antes que as
lâmpadas elétricas faísquem, ferindo a escuridão iminente. À distância – além
daquele vale que desemboca no rio Jacuípe, seguindo a BR 116 Sul – viam-se até os
contornos pálidos de longíssimas montanhas, quase se confundido com o azul tímido
do céu.
Enquanto
o poente se esbraseava, pipas dançavam, silenciosamente, no céu da Queimadinha.
As copas das palmeiras imperiais farfalhavam e refletiam – num momento fugaz –
a luz do sol, emprestando alegria ao crepúsculo. Em volta, o voo incessante dos
passarinhos. Destacando-se no poente só um gavião, majestoso, fazendo
acrobacias enquanto a tarde morria.
São
os primeiros sinais do verão? As luzes, as cores, a tepidez do poente, o azul
puríssimo, tudo indica que sim. Em dez dias, acaba o inverno. Começam as
estações festivas – primavera e verão – e, com elas, o feirense se identifica.
As temperaturas mais baixas, as chuvas constantes, as manhãs e tardes plúmbeas,
as noites e suas sanguíneas nuvens que despejam garoas prateadas, frias,
costumam ser trégua curta no ensolarado cotidiano feirense. Em 2020, essa
trégua durou muito.
Enquanto
as orgias de cores e luzes enfeitam o céu, o feirense médio pisa afoito o chão
da cidade, batalhando pelo pão, acossado pelas incertezas e turbulências da
pandemia e da economia. Pelas ruas, começa a se envolver com o debate
eleitoral, que vai ganhando dimensão. A pesquisa eleitoral divulgada ontem
animou as conversas pelas esquinas, alimentou acalorados debates.
Pela
primeira vez em 20 anos, José Ronaldo de Carvalho ou um candidato indicado por
ele não lideram um levantamento: o deputado federal Zé Neto está à frente, com
29%, seguido do prefeito Colbert Martins Filho, logo atrás, com 22%. O
problema, para o atual prefeito, é sua rejeição no momento: 59%, 20 pontos à
frente de seu principal concorrente, Zé Neto.
No
pelotão intermediário movimentam-se o ex-deputado Carlos Geilson (9%) e o
vereador Roberto Tourinho (5%). O levantamento é da Potencial Pesquisa e foi
publicada pelo jornal A Tarde. Outros nomes flutuam, mais atrás, com cerca de
2% das intenções de voto. Muita gente apostava numa eleição em dois turnos e
este primeiro levantamento, até aqui, confirma a opinião de inúmeros
palpiteiros.
Há
24 anos, em 1996, Colbert Filho e Zé Neto enfrentaram-se pela primeira vez numa
disputa pela prefeitura da Feira de Santana. Naquela oportunidade, o atual
prefeito quase chegou ao segundo turno, mas acabou suplantado pelo ex-prefeito
José Falcão – que saiu vitorioso – e pelo ex-reitor da Uefs, Josué Mello.
Voltaram
a se encontrar em 2004 e, agora, defrontam-se pela terceira vez. Mas finalmente
como protagonistas, conforme indica a pesquisa. Vão se enfrentar num round final, no segundo turno? É cedo
para prever. A campanha de fato nem começou. E há a variável pandemia, que pode
interferir. Ganha quem mobilizar mais seu eleitorado para votar, pois muitos
estão reticentes, temendo riscos.
O
cenário político feirense, hoje, guarda algumas semelhanças com o crepúsculo de
ontem: ficou mais claro, mais nítido, mas ainda é cedo para se afirmar que as
nuvens se dissiparam de vez.
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