Originalmente publicado em Set/2020
Uma
liminar concedida em segunda instância, no Tribunal de Justiça da Bahia,
suspendeu hoje (18) a remoção de camelôs do centro comercial da Feira de
Santana. A medida, desejável, permite que os dois lados ganhem tempo: os
trabalhadores dispõem de uma trégua para reforçar a necessidade de diálogo; e a
prefeitura, por sua vez, pode adotar uma postura razoável e buscar uma mediação
que, até aqui, não houve. É a intransigência da prefeitura, aliás, que conduziu
a este impasse.
Quem
trabalha pelas ruas feirenses é gente pobre, de poucos recursos. Nem é preciso
tanta sensibilidade para perceber. É evidente que não têm condições de bancar aluguel
e taxas do festejado shopping popular, ali anexo ao depauperado Centro de
Abastecimento. Sobretudo num momento de crise na economia, na saúde pública, na
governança do Brasil. A “generosa” isenção – oito meses de carência nas taxas –
não é garantia de coisa nenhuma.
Caso
fique inadimplente, o trabalhador perde o box. O que é que ele vai fazer da
vida? O projeto da prefeitura de revitalização não prevê ninguém mercadejando
pelas ruas do centro da cidade. O que é que esses trabalhadores farão? Ninguém
responde, porque não existem respostas. Aliás, existem, mas ninguém ousa
externá-las. Como quem é mais atento consegue adivinhar, nelas o final não é nada
feliz para o camelô...
O
leitor lembrará, com razão, que os argumentos já foram apresentados num texto
anterior. É verdade. Mas é sempre necessário ressaltar porque muitos não
conseguem perceber a amplitude do que se camufla numa supostamente simples
remoção, numa desobstrução de calçadas. As calçadas feirenses, aliás, estão
obstruídas há décadas. Por que, agora, impõe-se tanta pressa, tanta urgência,
num momento de pandemia?
Está
na moda, no Brasil, a “historiografia” criativa: inventar um passado que nunca
existiu. É o caso dos mentecaptos que negam a ferocidade da ditadura militar.
Negam, inclusive, a própria ditadura militar. Aqui na Feira de Santana, queiram
certas figuras ou não, os camelôs e ambulantes são parte da essência da cidade,
pretérita ou atual. E sempre serão.
Eles
e elas geram o próprio posto de trabalho, vendem, consomem, fazem o dinheiro
circular e, sobretudo, contribuem para a grandeza dessa cidade que, hoje,
completou 187 anos. Altaneira, mas descuidosa de sua beleza, como todo mundo
vê.
É
necessário respeitar os camelôs e os ambulantes da Feira de Santana!
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