A
semana começou com o País vivendo uma situação singular: há décadas não se vê
convocação para uma manifestação defendendo o fechamento do Congresso e do
Supremo Tribunal Federal (STF). É o que noticia a imprensa. O pior é que o
chamado vem de gente que apoia o atual presidente da República, o polêmico Jair
Bolsonaro (PSL-RJ). O ato está previsto para o próximo domingo, 26. Se não
insufla, a família aboletada no poder não desencoraja suas milícias digitais
contra o Legislativo e o Judiciário.
Pelo
jeito, os Bolsonaro querem replicar o ato de 15 de maio, que mobilizou pelo
menos um milhão de pessoas em todo o Brasil, contra os cortes na educação e em
repúdio à reforma da Previdência. Só que, atacando poderes constituídos, não se
trata só de uma reação, de um esforço para demonstrar apoio popular. Trata-se
de uma aposta contra a própria democracia.
Ano
passado, no período eleitoral, conversei com dezenas de pessoas sobre a
situação política brasileira. Praticamente todo mundo apostava que, caso não
conseguisse governar, Bolsonaro e sua ala ideológica tentariam rifar o
Congresso e governar como aquilo que, no fundo, ele é: um autocrata. O roteiro,
pelo jeito, não é o mesmo do passado, mas a disposição autoritária é idêntica.
A
iniciativa gerou discordâncias entre a própria gente do governo. Deduzo que
alguns – movidos por um ódio cego ao petê – não conseguiram enxergar em quem
estavam depositando suas esperanças. A realidade não tardou a se impor,
implacável. E o descalabro jorra aos borbotões no noticiário, todos os dias,
conforme qualquer um pode constatar.
A
sensação psicológica é de fim de governo, mas, cronologicamente, o desastre
está só no começo. Faltam, ainda, intermináveis três anos e sete meses. O
“parlamentarismo informal”, no qual alguns se fiam, não vai dar certo, porque
arranjos do gênero são inviáveis. É mais retórica, fruto do desespero que,
propriamente, uma alternativa colocada à mesa. Mesmo que haja, aí, um louvável
esforço pela sensatez.
Tudo
indica que a semana vai se arrastar, sob elevada tensão, enquanto as milícias
digitais se equipam, arreganham os dentes e prometem, carbonárias, fustigar
deputados e membros do STF. Investem no radicalismo apostando numa ruptura que
lhes seja supostamente favorável: a ampliação dos poderes de Bolsonaro e, por
tabela, dos seus filhos.
Quem rifa o próprio destino
se dispondo a sujeitá-lo às idiossincrasias dessa família adota postura
temerária. Mas vivemos tempos temerários há cerca de meia década. E, sempre,
descendo a ladeira...
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