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Cinco meses de autoritarismo, incompetência e trapalhadas

Abraham – “Dançando na chuva” – Weintraub, o patético ministro da Educação, pretende proibir estudantes, professores e pais de estudantes de divulgar atos contra o governo. A decisão foi anunciada depois das manifestações de ontem (30) que levaram, mais uma vez, centenas de milhares de estudantes às ruas Brasil afora. O absurdo passa despercebido para muita gente num País de democracia enferma, mas escandaliza os segmentos mais esclarecidos. O flerte com o totalitarismo é apenas mais um na já longa fieira de bizarrices que o novo regime acumula.
Na Economia, o ultraliberalismo recorre a um expediente bem profano para arrancar suas controversas reformas: a chantagem. Caso isso ou aquilo não seja aprovado, faltará dinheiro para benefício social, para a prestação de serviços à população, para o pagamento de salários de servidores. Enquanto isso, os perdões companheiros de dívidas correm à larga...
É visível que faltam credenciais intelectuais ao ministro Paulo – “Tchutchuca” – Guedes, apesar de todo o incenso lançado pelo “deus mercado”. Daí ele apela – de maneira recorrente – à chantagem, ao catastrofismo, às ameaças apocalípticas. Mais do que o festejado “Posto Ipiranga”, conforme o batizou o chefe da trupe, Jair Bolsonaro, ele parece que encarna uma personagem messiânica muito comum nesses tempos.
O retórico ultraliberalismo econômico contrasta com a grande novidade do novo regime: um Ministério da Família. Noutras palavras, defende-se Estado mínimo na economia, mas Estado máximo na persecução da vida privada dos indivíduos. Coisa de causar inveja ao Estado Islâmico ou ao Talibã, lá na Síria e no Afeganistão.
Obviamente, uma pasta do gênero só poderia ser ocupada por uma pérola da excentricidade: Damares Alves, a ministra que viu Jesus Cristo numa goiabeira, crê que holandeses masturbam bebês, enxerga lesbianismo em personagem de desenho animado e garante que os nordestinos dispõem de um manual de bruxaria para crianças. É figura que dispensa maiores comentários, portanto.
Nas Relações Exteriores Jair Bolsonaro escalou um quixotesco combatente do “marxismo cultural”, seja lá o que signifique isso: Ernesto Araújo. Até intervenção militar brasileira – em apoio aos norte-americanos – foi cogitada nesses primeiros meses de governo. Mundo afora, a atuação do Torquemada tupiniquim causa espanto e estupefação. A personagem encarna uma espécie de talibã cristão.
Nada divertida é a atuação do ministro do Meio Ambiente, se é que a designação, hoje, é cabível para a pasta. Quase duas centenas de agrotóxicos – muitos deles proibidos em países civilizados – foram liberados desde janeiro. Aquecimento global? É invenção de comunistas. Desmatamento? O novo regime se empenha para promovê-lo. Fiscalização ambiental? É “burocracia” e amarra.
É claro que o presidente da República se sobressai em relação a essa fauna que ele próprio arregimentou para compor o ministério. A grosseria, o raciocínio raso, o populismo rasteiro, a calculada vitimização e as patentes limitações para o exercício da função sintetizam características de toda a equipe. Além, é claro, da notória incapacidade política e da evidente aversão ao diálogo.
Quem elegeu Jair Bolsonaro, porém, jamais vai poder alegar que foi enganado. O governo dele é isso que está aí e não vai mudar. E – reitere-se – em momento algum ele prometeu que seria diferente...

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