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Direita e esquerda não entendem manifestações juvenis

As mobilizações juvenis em defesa da educação vêm gerando polêmica Brasil afora. O discurso oficial defende que os jovens são “idiotas úteis” e que servem de “massa de manobra” para a oposição de plantão. Esta, por sua vez, sustenta que o “Lula Livre” integra o discurso de quem vai às ruas se opor aos cortes em todos os níveis da educação, à exceção das escolas militares. É evidente que os dois lados puxam a sardinha para a própria brasa, ignorando a realidade. Postura, aliás, muito normal nesses tempos de fake news e de interpretações rasas.
Os novos donos do poder só consideram válidas as manifestações “a favor”. Quem discorda dos mandatários de plantão é “ruim”, não é “patriota” ou está a serviço do “comunismo”. Algumas frases soam até infantis, mas são, no fundo, alarmantes. Refletem o baixo apreço que certas figuras dispensam à democracia. No mérito da total ausência de propostas para a educação eles, obviamente, não tocam.
Esse raciocínio reverbera: na imprensa, não falta quem condene as manifestações pelo caráter supostamente “partidário”. Como se a vinculação de alguns participantes a partidos políticos – o que é legal e legítimo, mesmo na esgarçada democracia brasileira – desmerecesse os atos. Conduzir o debate para essa seara é uma manobra esperta, que tangencia o mérito da discussão.
Quem exerce o poder, em tese, deve investir na moderação como método pra solucionar conflitos. Não é o que se vê: se aposta no caos e na radicalização típicos do último período eleitoral, sustentando-se o clássico “nós” contra “eles”. Isso vai além de uma estratégia de permanência no poder, pois também camufla o “deserto de ideias” que os mais atentos notaram desde o período eleitoral.

“Lula Livre”

Por outro lado, o petê segue perseguindo a panaceia do “Lula Livre”. No fim de semana, expoentes da legenda resolveram atrelar as manifestações estudantis à pauta do partido. Não faltou quem – num surto delirante – tenha visto os atos como uma “defesa” das realizações petistas na educação. Obviamente, não mencionam a maior crise econômica das últimas décadas legada pela legenda.
Nas manifestações, é evidente que comparecem petistas paramentados com broches e camisetas vermelhas e que, aqui e ali, surjam faixas e cartazes reivindicando “Lula Livre”. Muita gente, porém, não percebe que a roda da História girou e que a juventude, majoritariamente, não se prende a esse clichê, nem enxerga o líder petista como um novo “Dom Sebastião”, conforme creem muitos petistas. Para muitos jovens, Lula já é parte da História.
Coletivos e organizações suprapartidárias – como o Levante Popular da Juventude – surgiram como novas formas de organização juvenil. As estruturas partidárias verticalizadas não encantam a garotada adepta das relações horizontalizadas legadas pela era digital. E pautas específicas ganharam relevância, assim como cresceu o protagonismo das mulheres, o que incomoda muita gente.
Antigas referências – à esquerda e à direita – não servem mais para entender o que está acontecendo e tornam o futuro nebuloso. Há quem se refugie no passado, como a extrema-direita que exalta a ditadura militar, ou gente de esquerda que se apega às noções anteriores à queda do Muro de Berlim. Daí a antipatia e a franca hostilidade a qualquer mobilização que fuja aos scripts previamente traçados.
A compreensão do presente e do futuro do País segue refém do passado, à direita e à esquerda. É improvável que se saia desse imbróglio recorrendo às velhas categorias analíticas.

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