Dar aula
está se tornando uma profissão perigosa no Brasil. E não apenas porque os
professores correm o risco de sofrer agressões de alunos iracundos num desses acessos
de violência que, às vezes, alguém filma. Os professores também estão sendo
filmados por alunos hostis que farejam “ideologia de gênero”, “marxismo
cultural” ou “comunismo” em qualquer frase. Às vezes, essas imagens originam
denúncias, mas, na média, provocam mesmo é balbúrdia nas efervescentes mídias
sociais.
Todo dia
gente que não entende de educação saca da algibeira medidas que visam
“endireitar” a formação de crianças e jovens brasileiros. Na média, trata-se
apenas de tentativas de cercear a liberdade do professor em sala de aula. Há
quem enxergue bruxaria ou pedofilia num simples conto infantil. Até a
anacrônica “educação domiciliar” resolveram desenterrar.
Temperando
tudo, existem as tiradas patrioteiras. Há quem acredite que educação se resume
a cantar hinos patrióticos, decorar datas marcantes, recitar locais célebres e memorizar
nomes das grandes personagens da pátria. Isso sob uma disciplina militar, digna
de quartel. Método e infraestrutura adequada nas escolas costumam figurar nos
discursos desses “especialistas”. Afinal custa dinheiro, que vem minguando,
como todo mundo sabe.
Os mesmos
que defendem constrangimentos e restrições em sala de aula pregam, ardorosos, toda
a liberdade para as polícias apertarem o gatilho em suas incursões. Afinal,
enxergam que o Brasil enfrenta uma guerra não declarada e que é necessário
exterminar inimigos. Esses adversários, a propósito, são os negros e pardos,
jovens, pobres, residentes nas favelas e periferias, embora poucos admitam.
Professores
com constrangimentos crescentes e policiais com toda a garantia para promover a
matança que parte da elite tanto anseia Brasil afora. Esses são os pilares do
Brasil tosco, colérico, primitivo e raso que emergiu a partir da derrocada do
petê, embora não faltem inclusive “esquerdistas” entusiasmados com essa perspectiva.
Só que isso
não passa de uma pulsão de Tanatos,
de uma inclinação pela morte, pelo extermínio físico do outro. Qual país
alcançou o desenvolvimento exterminando parte da sua população e, ao mesmo
tempo, negligenciando a educação e perseguindo professores? Isso está mais
próximo do Afeganistão e da Síria que, propriamente, da Suíça ou da Holanda.
Quem se
desenvolve investe em ciência e tecnologia e qualifica sua população. Isso
costuma se desdobrar em inovação e produtividade, molas-mestras do êxito
econômico hoje. O caminho é sempre longo, árduo e envolve superar o misticismo
e a superstição, tão comuns em sociedades pouco avançadas como a brasileira.
Não é o que pretendem os governantes
brasileiros, como se vê. No Brasil do futuro de muitos, enquanto as crianças
aprenderão “criacionismo” e patriotadas na escola, as polícias apertarão o
gatilho nas vielas das periferias e favelas de sempre.
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