As
últimas noites foram de relâmpagos intensos e muito frequentes na orla do céu
da Feira de Santana. O espaço de abrangência foi imenso: estendia-se ali do
oeste, aonde o sol se põe – como incandescente esfera de cobre – nos dias de
céu sem nuvens até o nordeste da cidade. Nuvens escuras, gigantescas,
acumulavam-se no horizonte e estacavam. E mais tarde se dispersavam, como se
uma barreira invisível impedisse que chegassem à zona urbana.
Ontem
(19) uma lua cheia, deslumbrante, despontou logo cedo, a leste, horas depois da
chuva breve que caiu. Algumas nuvens diáfanas, às vezes, envolviam o astro,
diluindo seus contornos. Mas, logo mais, ressurgia o disco lunar que
contracenava com os raios, distantes, que foram se tornando mais espaçados, até
desaparecer.
Ninguém
ouviu trovão: sinal que a tempestade desabava, furiosa, mas distante, incapaz
de romper a barreira imaginária que a mantinha afastada da cidade. Mas não
deixou de ser belo o espetáculo silencioso da luz metálica iluminando as nuvens
avermelhadas.
Mas
o que desperta a atenção da maioria não são essas belezas cujo palco é a
amplidão. São os dias incandescentes de verão.
-
Que calor! Meu Deus do céu!
É
o que se ouve pelas ruas, seja nas primeiras horas da manhã, no início da tarde
– quando as ruas ficam desertas, lembrando aqueles cenários do Velho Oeste – ou
até mesmo à noite, quando a tradicional brisa costumava atenuar manhãs e tardes
abrasadoras. Quem reclama costuma espichar o olho, tristonho, espantado com as
ondas de calor que dançam à distância.
Caso
ruas, praças e avenidas da cidade exibissem árvores vistosas, imponentes,
provavelmente as temperaturas seriam muito mais amenas. Mas não é o que se vê:
circulando pela cidade observam-se ruas planas e extensas sem, sequer, uma única
árvore. Quando muito, observa-se um bravo fícus com sua sombra tênue,
arredondada pela poda constante.
O
que resta de vegetação pela cidade abriga-se naqueles raros quintais que
hospedam uma mangueira, um coqueiro, às vezes um cajueiro ou – árvore espantosa
– uma jaqueira. No mais, é o calçamento, o asfalto, a calçada irregular e o sol
inclemente que não oferece nenhuma trégua.
À
Feira de Santana, tristemente, faltam até mesmo singelas iniciativas de
arborização, já que pretender uma política para o meio ambiente é ambição
desmedida, considerando-se o contexto local. Mas como é coisa de longo prazo,
que não rende voto, ninguém comenta, nem se preocupa.
Nem
com o sol implacável fervendo as mentes que abandonam as sombras e o conforto
do ar-condicionado...
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