Pular para o conteúdo principal

Faces do aquecimento global na Feira

- Nunca tinha visto um temporal desses em minha vida – reagiu um morador do distrito da Matinha, depois da tempestade com rajadas de vento que caiu na localidade no mês de fevereiro. Foi imediato o sucesso das imagens da ventania nas mídias sociais.
Efetivamente, foi uma tempestade impressionante. Semelhante, inclusive, à que desabou sobre a Feira de Santana logo na sequência, um ou dois dias depois. Os efeitos foram dramáticos: alagamentos, lama inundando casas, móveis destruídos, construções danificadas. O que espantou, na ocasião, foi a escala dos estragos.
Há uns poucos dias uma tempestade de raios desabou sobre o centro da cidade e nas cercanias. Choveu forte, mas rápido e quem circulou pelas estreitas artérias comerciais se espantou com a quantidade de raios. Os mais cautelosos não dispensaram o abrigo até o fenômeno se dispersar.
As chuvas torrenciais e os raios são fenômenos pontuais. A constante é o calor indescritível que se arrasta desde meados do ano passado, com tréguas curtíssimas. Mesmo à noite – quando a temperatura, tradicionalmente, cai – o calor se mantém, quase intolerável. Circular entre o final da manhã e o início da tarde é um desafio imenso, mesmo para quem ostenta excelentes condições físicas.

Aquecimento global

- O calor nessa cidade não era assim...
É o que os mais velhos comentam. Alguns, mais criteriosos, vasculham a memória à cata de canículas intermináveis. Praticamente ninguém consegue mencionar intervalos muito longos de calor tão intenso. Há quem aponte a derrubada indiscriminada de árvores na cidade como uma das razões. É uma explicação cabível para as “ilhas de calor” mencionadas pelos meteorologistas, mas infelizmente o fenômeno não é apenas local.
Respeitadas universidades mundo afora estão preocupadas com o aquecimento global. A Europa, por exemplo, já sofre com verões escaldantes, menos comuns noutros tempos. Mas, no Brasil que regride a um desconcertante primitivismo, desdenha-se da questão. Chuvas torrenciais e temperaturas altíssimas são desdobramentos desse aquecimento, apontam cientistas.
Em 2019, por exemplo, a safra de soja no País vai ser 14% menor que o esperado. A razão? Variações climáticas imprevistas nos estados produtores. Chuva diluviana e muito calor. Só que, no governo de plantão, exalta-se a motosserra como símbolo do progresso, como alavanca da nossa prosperidade material.

Bernardino Bahia

Noutros tempos, o centro da Feira de Santana era muito mais agradável. A profusão de barracas, a implacável revogação do verde, o asfalto indiscriminado, o vidro e o concreto tornaram tudo mais quente. Hoje, um dos poucos locais amenos é a praça Bernardino Bahia, ali perto da Sales Barbosa, aonde se destacam duas árvores imensas.
Qual deve ser o diâmetro daqueles dois gigantescos, indescritíveis monumentos? Seria bom que fossem medidos. Seria bom, também, que aquelas plantas soberbas recebessem a atenção devida. É inestimável o serviço que prestam ao feirense esfogueado, ao tabaréu abafado, suarento, que procura pouso por alguns instantes. Sob a sombra, sempre sopra uma brisa fresca. Ouvem-se até pássaros.
Muita gente se aglomera ali, nos intervalos de sua labuta, sobretudo às segundas-feiras pela manhã. Há pregações religiosas quase perpétuas quebrando o silêncio fugaz. Que árvores serão aquelas? Tenho imensa curiosidade em saber. São imponentes, magníficas, relíquias vivas de uma Feira de Santana que já não existe mais...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da