Nesta
quarta-feira (13), dois jovens – um deles adolescente – entraram armados em uma
escola de Suzano (SP) e mataram, a tiros, oito pessoas. Chocado pela tragédia,
o brasileiro que acompanha o noticiário ainda teve que digerir as declarações
dos atuais mandatários do País. Na era petista, qualquer derrapada era tratada
com debochado estardalhaço. Agora, acumulam-se absurdos em série, sem reações,
como se o despreparo de quem conduz o país fosse algo perfeitamente natural.
O
primeiro a se manifestar foi o vice-presidente da República, o general da
reserva Hamilton Mourão. Insinuou que os “videogames” podem ter inspirado os
assassinos. E sobre o acesso às armas? Disse que não eram legais e, portanto, o
decreto assinado por Jair Bolsonaro (PSL), facilitando o acesso às armas, não
tinha influência.
Um
militar de São Paulo, neófito no Senado, recorreu a absurdo maior: disse que,
caso os professores estivessem armados – ou outro servidor qualquer –, a
tragédia não teria acontecido. Pelo jeito, além de suas atribuições
pedagógicas, logo teremos professores cumprindo funções policiais. E embolsando
o mesmo salário magro, é claro. Só no Brasil desses tempos para ideias desse
tipo são levadas a sério.
O
presidente da República, Jair Bolsonaro, compulsivo usuário de mídias sociais,
só foi se manifestar cinco longas horas depois da chacina. Não foi além da
meia-dúzia de palavras, chochas, protocolares, superficiais, inclusive com erro
de digitação. Tentou classificar a matança de “atentado”, mas escreveu
“atendado”.
Rearmamento
Os
mais lúcidos percebem que é o acesso às armas – legais ou ilegais – que impulsiona
chacinas desse quilate. E essas matanças estão se tornando recorrentes: em
Campinas-SP, um desajustado matou quatro pessoas numa igreja, em dezembro
passado; dois anos antes, na mesma cidade, um ciumento desequilibrado matou
doze pessoas, a maioria mulheres. E, há sete anos, uma escola em Realengo, no
Rio de Janeiro, também foi palco de uma chacina.
Paradoxalmente,
a onda do momento, no Brasil, é fazer a apologia do rearmamento da população.
Quem defende isso circula em carros blindados, conta com exército de
guarda-costas e capangas para se proteger e – invariavelmente – faz o lobby da indústria armamentista. Desavisado,
acossado pelo medo, o brasileiro médio reforça o discurso, sem imaginar que ele
próprio pode entrar na alça de mira.
Acesso
a arma não é se esgota no “direito legítimo do cidadão à autodefesa”, conforme
clamam alguns, em seus discursos empolados. É uma maneira sutil do Estado abdicar
da oferta de segurança pública e transferir a responsabilidade para o cidadão,
que vai precisar se defender sozinho. É também uma forma de alavancar os lucros
dos amigos da indústria bélica, sequiosa pela ampliação dos mercados.
Enfim, foi doloroso,
brutal, o massacre em Suzano. Mas que ninguém se engane: quanto mais
franquearem o acesso às armas, mais mortes vão se avolumar em circunstâncias
semelhantes. Afinal, hoje, tudo o que importa é o lucro de quem vende arma...
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