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Trinta anos do Bahia campeão brasileiro

O 15 de fevereiro de 1989 – há exatos trinta anos – foi numa quarta-feira. Aquele verão foi radioso, escaldante. Nos crepúsculos de poucas nuvens, um vermelho vívido tingia o poente. E havia as cigarras magistrais com sua sinfonia profunda, melancólica. Eram incontáveis, porque os quintais daqueles tempos eram arborizados e muitas áreas verdes ainda pontuavam a paisagem urbana da Feira de Santana. Mas aquele foi um dia diferente. Apesar do verão e dos afazeres cotidianos, havia uma tensa expectativa no ar.
Afinal, à noite, o Bahia de Bobô, Charles, Paulo Rodrigues e Zé Carlos ia encarar o Internacional de Porto Alegre pela primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1988. Parada dura: no primeiro turno, a equipe gaúcha aplicara 3 a 0 no estádio Beira-Rio. Para completar, o time baiano lidava com um incômodo tabu: em onze jogos oficiais, o tricolor jamais vencera o adversário.
Vá lá que, na Feira de Santana, o Bahia disputa com o Fluminense de Feira e com os times cariocas a preferência dos apaixonados por futebol. Mesmo assim, naquela noite, os dois gols de Bobô – o tricolor venceu a primeira partida da final por 2 a 1 – provocaram gritos, comemorações frenéticas e o espocar de fogos pela cidade, mais silenciosa à época.
Na manhã seguinte os jornais desapareceram logo cedo das bancas: muita gente quis ver, ávida, as notícias sobre a partida, examinar as fotos que estampavam as capas. Quem pôde, acompanhou as resenhas esportivas com rádio no ouvido ou ficou atento às tevês ligadas nos botequins e nas lanchonetes. Naqueles tempos, não havia Internet.

Bahia campeão

Uns poucos incrédulos duvidavam do título no domingo seguinte. Quase todo mundo se espantava com o Bahia que impunha seu ritmo e batia adversários tradicionalmente favoritos: São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos – os quatro grandes de São Paulo – foram derrotados pelo tricolor na primeira fase; Flamengo, Grêmio e Cruzeiro também tropeçaram ante o surpreendente time baiano.
O título tricolor coincidiu com um momento de intenso interesse pela Bahia. Além do futebol, a música baiana – posteriormente batizada de Axé Music – contagiava multidões, eletrificadas pelos ritmos de inspirações caribenha e africana; o Carnaval e os atrativos naturais – Mangue Seco e sua paisagem seriam palco de uma trama novelesca logo depois – atraíam levas de turistas. Salvador era, então, a mística capital que todo mundo queria conhecer.
Os dias que antecederam a segunda partida da final – em 19 de fevereiro, na capital gaúcha – foram de expectativa e muito debate. Nos bares, sorvendo um aperitivo, nas calçadas e nos pontos de ônibus só se falava das chances do time comandado por Bobô levantar o caneco. O baiano – e o feirense – não parava de se espantar com o bom futebol da equipe tricolor.
Naqueles dias, quem marcava um gol nos “babas” dos incontáveis campos de várzea da cidade não era queria mais ser Maradona ou Careca – ícones do futebol naquele momento – mas Bobô ou Charles. Aquele foi, sem dúvida, o grande momento do futebol baiano.

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