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Retrato da indústria e da administração pública na crise em Feira

A crise econômica que se arrasta desde meados de 2014 causou estragos também sobre a indústria feirense. Dados disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do então Ministério do Trabalho, indicam retração no número de estabelecimentos instalados no município e, também, na quantidade de empregos.
Segundo o levantamento, em 2014, havia 1.330 indústrias do setor de transformação na Feira de Santana. Três anos depois esse número caiu para 1.164. São 166 empresas a menos no intervalo. A retração se refletiu sobre o volume de empregos, que declinou de 20,5 mil para 17,7 mil. Foram exatos 2.776 postos a menos, considerando idêntico intervalo. Só o salário nominal melhorou: passou de R$ 1.598,06 para R$ 1.943,71.
Houve encolhimento também na quantidade de empresas de serviços industriais de utilidade pública. Eram 13 em 2014 e caíram para 12 três anos depois. O estoque de empregos, evidentemente, encolheu: passou de 877 para 840. Saldo negativo, portanto, de 37 vagas. O que subiu foi o salário médio, alavancado pelos reajustes no mínimo: pulou de R$ 2.572,49 para R$ 2.826.
O setor industrial enfrenta um processo particular de retração. Sob a perspectiva conjuntural, não restam dúvidas de que o declínio se deve à atroz crise econômica cujos efeitos ainda se fazem sentir. A indústria, a propósito, foi um dos segmentos mais afetados pelos desarranjos legados por Dilma Rousseff (PT) e cultivados pelos sucessores.
Há, porém, uma perspectiva, estrutural, pouco comentada: há muito tempo o Brasil enfrenta um crônico problema de “desindustrialização” – redução da participação desse segmento no Produto Interno Bruto, o PIB – que, obviamente, pode estar afetando também a economia feirense. A forte concorrência da indústria chinesa é um dos determinantes desse processo.
Os funcionários públicos foram transformados em vilões da vez pela imprensa e pelos políticos. Pois bem: pelo menos aqui na Feira de Santana o número de empregos também diminuiu na administração pública: eram 6,7 mil em 2014 e, três anos, depois eram 6 mil. Enxugamento expressivo: 736 postos a menos, mais de 10% do total. Para a categoria, também houve algum ganho salarial, na média: de R$ 2.421,37 para R$ 3.088,30.
Só na agropecuária houve avanço em relação aos postos de trabalho: de 932 em 2014 saltou para 1.091 três anos depois. O salário médio também subiu, saltando de R$ 987,24 para R$ 1.268,35. O saldo, numericamente, não é tão expressivo – 159 empregos a mais – mas, percentualmente, é significativo: quase 20% do estoque inicial. Um oásis de prosperidade no árido cenário de retração.
Esses números oferecem um retrato de como a Feira de Santana atravessou a tormentosa crise econômica que, por enquanto, segue assombrando os brasileiros. Não reflete os dramas embutidos, as múltiplas tragédias cotidianas, mas sinaliza o quanto o município perdeu com o intragável engasgo econômico. 

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