Pular para o conteúdo principal

A Feira que se deseja para a próxima década (II)

Em texto anterior apontamos a necessidade da construção de uma agenda para a Feira de Santana. Poderíamos defini-la como uma agenda de desenvolvimento. Mencionamos, também, algumas intervenções realizadas em Salvador que contribuem para elevar a qualidade de vida na capital, como os sistemas viários do Aeroporto e da Rótula do Abacaxi e o metrô.
Anuncia-se, para o segundo semestre, a licitação da ponte Salvador-Itaparica. Mesmo localizada a mais de uma centena de quilômetros da Feira de Santana, a badalada obra vai afetar a vida da Princesa do Sertão.
O projeto divulgado pelo governo estadual prevê que, além da ponte ligando a capital à ilha, será construído o Sistema Viário Oeste (SVO), um todo integrado que pretende facilitar a conexão entre o Oeste e a Chapada Diamantina e Salvador. Para tanto, pretende-se construir uma espécie de anel suprametropolitano, visando conectar quatro rodovias federais: as BR 324, 101,116 e 242.
Objetivamente, o projeto permitirá que aqueles que viajam para a capital e que necessitam contornar a Baía de Todos os Santos não precisarão mais fazê-lo. Bastará acessar o SVO e atravessar a ponte, encurtando a viagem e chegando pelo centro da capital baiana. A redução de tempo será significativa, mas a previsão é que o pedágio custe R$ 45.
Quem está no Recôncavo, no Baixo Sul ou viaja desde a Chapada Diamantina ou do longínquo Oeste baiano tende optar por esse caminho. Anos atrás apontamos que uma mudança tão radical tende a provocar uma reconfiguração logística em parte do território baiano. Com a intervenção, algumas regiões tendem a se tornar mais dinâmicas e, outras, perderão protagonismo.
É evidente que, caso esse cenário se confirme, há a tendência de que a Feira de Santana perca parte do seu vertiginoso fluxo diário. O Portal do Sertão vai se tornar menos portal, porque a amplitude de destinos que exigem passagem por aqui vai diminuir. Em alguma medida, todo mundo que vai para o Sul e o Oeste dispensará passar pela cidade, inclusive pela BR 101, que fica a 15 quilômetros daqui.
O dano maior, porém, é que o Sistema Viário Oeste poderá produzir impactos mais profundos, sobretudo na esfera econômica, mercantil. Quem antes comprava ou recorria à oferta de serviços daqui pode optar por seguir até Salvador cortando caminho. Ou escolher Santo Antônio de Jesus, Amargosa e até Cruz das Almas, que ficarão, geograficamente, no novo centro pulsante da economia da região.
É claro que a articulação comercial da Feira de Santana com boa parte da porção setentrional da Bahia tende a ser preservada.  Mas a conexão d o município com o Recôncavo próximo, com suas cidades mais prósperas, tende a se reconfigurar, com efeitos que exigem mensuração. O impacto, inclusive, pode ser significativo.
No passado, a vizinha Cachoeira perdeu protagonismo quando as estradas carroçáveis e, depois, as rodovias, arrebataram o protagonismo da ferrovia e da navegação de cabotagem. Cidades como Alagoinhas também foram prejudicadas quando o País abandonou a ferrovia como alternativa logística. São dois exemplos que deveriam despertar a atenção dos líderes políticos locais.
Apesar do anúncio oficial, permanece o ceticismo em relação à obra, por causa do momento econômico pouco empolgante. Também será longo o tempo até sua conclusão, mesmo que surjam poucos empecilhos. Mas, mesmo assim, é necessário começar a pensar o impacto da ponte sobre a Feira de Santana.
A Feira que se deseja para a próxima década, portanto, pode ser profundamente impactada pela ponte Salvador-Itaparica.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...