O Brasil é
um País que não se preparou para cuidar de suas crianças quando nascia gente em
profusão. Hoje não se prepara para cuidar dos seus velhos, cuja quantidade
cresce a cada levantamento. Não é necessário ser profeta, nem adivinho, para
perceber que grandes dificuldades se anunciam para essa faixa etária daqui a
uns poucos anos. No Censo do ano que vem – caso ocorra mesmo, pois os
governantes de plantão podem, até, julgá-lo desnecessário – será possível
dispor de um retrato mais atualizado. Os números antigos, porém, sinalizam
tendências interessantes.
Na Feira de
Santana, em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE,
apurou que 8,7% da população local tinha 60 anos ou mais. Encaixava-se no que
se convencionou chamar de idosos. A curva é ascendente: em 2000 eram 6,7% e, no
levantamento anterior, de 1991, correspondiam a modestos 5,5%. Pela tendência é
possível que, hoje, esse percentualjá alcance os dois dígitos.
A quantidade
de crianças e adolescentes até 14 anos na Feira de Santana declina
sensivelmente. Os mesmos levantamentos do IBGE apontam para uma tendência
contrária à dos idosos: eram 37,6% em 1991, passaram a 30,3% nove anos depois e,
em 2010, no último Censo, correspondiam a 24,1%.
Será que, em
2020, o IBGE vai apurar que somente um quinto dos feirenses está nessa faixa
etária? Não se duvide. É que, no município, o número de filhos por mulher é
insuficiente até para repor a população. Era 2,09 no fim do século passado, em
2000, e, em 2010, não passava de 1,87. Caso se mantenha a tendência, lá
adiante, a população brasileira vai começar a se reduzir, conforme estimam muitos
demógrafos.
População Ativa
Feira de
Santana é local de afluência de quem está em idade de trabalhar. É que, mesmo
com remuneração baixa e com muitos postos precários, há mais oportunidades aqui
do que em dezenas de municípios do entorno, mesmo com a crise assombrando há
cinco anos. Os números do Censo – somados ao bônus populacional – atestam esse
raciocínio.
A população
entre 15 e 59 anos – aquela na idade em que se costuma trabalhar – correspondia
a 56,9% da população no já longínquo ano de 1991. Avançou em 2000, alcançando
63% do conjunto dos feirenses e, em 2010, já somava 67,2%, mais de dois terços
dos residentes. Pelas transformações na pirâmide etária, tudo indica que o
percentual vai começar a crescer pouco ou se estabilizar.
No intervalo
entre 2000 e 2010, a população feirense crescia mais que o dobro da média
baiana: 1,5% anuais, contra 0,7% do estado. Na década anterior – entre 1991 e
2000 – esse percentual era mais alto: 1,9%, também mais alto que a média
baiana, que se expandia 1,1% anuais. Em ambos os períodos, a população rural
declinava, em função da escassez de oportunidades no campo e dos atrativos da
vida na cidade.
Políticas para o idoso
Não se dá
relevo às políticas para a população idosa no Brasil. A Feira de Santana segue
a tendência nacional. O segmento exige um conjunto de políticas públicas que, até
aqui, sequer começa a ser esboçado. A saúde, obviamente, é a área mais
relevante. Mas há outras dimensões, como a da assistência social, a do trabalho
– sim, vai crescer a parcela dessa gente que trabalha – a previdenciária e,
também, iniciativas que assegurem o convívio social e a até a locomoção nos
espaços urbanos.
Não vai ser
o governo de plantão no Planalto Central que vai se ocupar do tema. Horário de
verão, tomada de três pinos, marxismo cultural, rearmamento da população,
condecorações e ideologia são as questões que ocupam aquela gente. As
universidades, as organizações não-governamentais, os movimentos sociais e a
própria imprensa assumem, portanto, importância maior para discutir a terceira
idade nos próximos anos.
Décadas atrás o Brasil lidou muito mal com suas
crianças: faltou escola, alimento, saúde e saneamento e sobraram doenças, fome,
miséria e, quando isso foi insuficiente, matou-se gente à larga, sobretudo
adolescentes e adultos jovens. Hoje o País tem a oportunidade de se preparar
para cuidar de seus idosos no futuro, se redimindo do tratamento dispensado às
crianças no passado.
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