O que vai
ser feito do Centro de Abastecimento da Feira de Santana? A incerteza angustia
os frequentadores daquele espaço e, sobretudo, trabalhadores e comerciantes que
retiram dali o próprio sustento. Portentosa,
a estrutura do festejado Shopping Popular vai camuflando o maltratado e antigo
entreposto. Mas quem percorre as cercanias consegue enxergar as mazelas, que
avultam: cercas arrebentadas, construções improvisadas, trânsito caótico, esgoto
transbordando, buracos.
Entrando no
Centro de Abastecimento as impressões iniciais se amplificam. As calçadas para
pedestres estão destruídas há anos; poeira e lama se alternam, conforme o sol
ou a chuva; caminhar pisando o calçamento grudento, entre carros e caminhões, é
arriscado: muitos avançam velozmente e também é necessária atenção com quem
manobra no estacionamento.
Como sempre,
os galpões – sobretudo aqueles intermediários, entre o setor de
hortifrutigranjeiros e os galpões de cereais e de carnes – são escuros e
mal-iluminados. Bancas de madeira se amontoam, às vezes sem ordem aparente. Nos
trechos mais desertos – há quem não perca mais tempo vendendo ali – a sensação
de insegurança é muito grande.
Muitos
malandros circulam pelo entreposto, tranquilos, à espera de oportunidades. Bebem,
fazem barulho, discutem e até fumam maconha, despreocupados, às vezes ignorando
os transeuntes. Nesses momentos, é possível notar a apreensão de quem trabalha
por ali.
A sensação
de insegurança é potencializada pelo abandono. Há volumes de terra acumulada
pelas áreas de circulação. A lama é viscosa quando chove e a poeira dança no
ar, cristalina, mesmo na escuridão dos galpões, nos dias de estio.
Bares e
restaurantes amargam prejuízos consideráveis: é comum ver mesas e cadeiras vazias,
num cenário desolador, mesmo no início do mês, quando muita gente ainda tem
algum dinheiro no bolso.
O que se
pretende fazer com o Centro de Abastecimento? Não há nenhum posicionamento
claro. Primeiro removeram a feira-livre no centro da cidade em meados dos anos
1970. Agora estão acabando, pouco a pouco, com o entreposto. A degradação, a insegurança, a fuga da
clientela, o silêncio sobre o Centro de Abastecimento, tudo conspira para o fim
daquele capítulo da História feirense.
Não se
duvide que toda aquela área se converta num monumental entreposto para a
comercialização de produtos importados da China. Há quem sustente que isso significa
modernidade, sintonia com os novos tempos, progresso. Principalmente depois de
2009, quando a importação de produtos chineses se ampliou no Brasil.
O agricultor
familiar, o feirante e o consumidor em busca de produtos saudáveis e mais
baratos que se virem. É o que o descaso e o abandono insinuam. Será que, no
futuro próximo, o feirense vai se tornar inteiramente refém do agronegócio e de
sua estrutura de comercialização? Será que, varridos dos circuitos comerciais
de maior visibilidade, agricultores e feirantes vão ficar ainda mais expostos à
pobreza e à miséria?
São questões difíceis de responder hoje.
Principalmente porque – reitere-se – não há clareza sobre o destino do Centro
de Abastecimento. Quem atua naquele circuito precisa começar a se mobilizar. Senão,
lá adiante, pode ser confinado numa longínqua central de abastecimento na
periferia da cidade, que ninguém vai visitar...
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