2019 é ano
de El Niño. O fenômeno implica em temperaturas mais elevadas e em escassez de
chuvas. Foi o que se observou na primeira metade do ano na Feira de Santana.
Entre janeiro e o início de junho o calor foi, habitualmente, abrasador. Nas
manhãs e tardes escaldantes – mesmo à noite a trégua era precária, porque o
calor costumava se estender madrugada afora – o feirense penava até numa
caminhada curta. A partir do fim da manhã e até as 16 horas o trânsito de
pedestres caía sensivelmente.
O calor sufocante
foi intercalado por trovoadas intensas. Boa parte das ruas da cidade –
principalmente na periferia esquecida – alagou e, em algumas delas, a água
ficou empoçada durante vários dias. Automóveis avançavam devagar nessas
piscinas enlameadas e pedestres recorriam a contorcionismos para não enfiar o
pé na água suja.
Quem labuta
no campo ficou desorientado: alguns apostaram no momento exato para o plantio
do milho e do feijão. Deram sorte e colheram. Outros, atrapalhados pelas
trajetórias erráticas do estio e da chuva, escolheram um momento infeliz e
viram a plantação definhar, sem safra. E junho chegou sob um calor intenso,
incomum:
- Parecendo
início de verão – Comentou um feirense, espantado com as incertezas climáticas.
Dias depois
a temperatura caiu e chuvas encorpadas, alternadas por garoas, se sucederam
dias seguidos. Os feirenses foram forçados a recorrer aos agasalhos que repousavam,
ociosos, no fundo dos armários. Na noite de São João a chuva persistente saiu
apagando fogueiras em Conceição da Feira, em São Gonçalo dos Campos, na própria
Feira de Santana.
Aqueles que
apreciam a luminosidade do inverno desfrutaram, até aqui, de escassas
oportunidades de exercer essa contemplação em 2019. Desde junho o céu se
apresenta plúmbeo, quando não chove; quando chove, resta apreciar a garoa
prateada que, melancolicamente, se desprende do céu; noutros momentos,
gigantescas nuvens encardidas encobrem a amplidão, restringindo o azul a nesgas
eventuais.
Muitos
reclamam do frio: no início da manhã é possível ver gente trajando agasalho,
andando rápido, incomodada com as temperaturas mais baixas. No fim da tarde as
reações são parecidas, quando todo mundo retorna do trabalho, da escola, dos
demais afazeres.
Talvez o
desconforto maior decorra das oscilações muito bruscas: o sol cálido – faz até
algum calor – é sucedido por ventos, chuva e frio à noite ou pela manhã. O fato
é que a constatação de muitos é que o tempo anda mudado: o calor insano não era
comum, nem se prolongava tanto no passado; o mesmo vale para as chuvas: eram,
no passado, mais bem distribuídas; e a sensação de frio não era tão
desconfortável.
Porém, os
arautos do futuro, no Brasil, asseguram que aquecimento global – que acarreta
bruscas variações de temperatura – é balela, coisa de “marxista cultural”.
Logo, preocupação com o meio ambiente é besteira, devaneio de maconheiro ou de
gente mal intencionada, que pretende rifar nossas riquezas. É o que prega a
sabedoria encastelada no Planalto Central.
O clima, aqui e em todo lugar, desmente, o tempo
todo, o tosco raciocínio desses trogloditas.
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