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Panorama Social da Feira de Santana



               
               
A noite de sábado foi agitada no centro da Feira de Santana: centenas de pessoas correram para as agências da Caixa Econômica Federal com o objetivo de sacar seus benefícios do Bolsa Família. O motivo? Um boato, de origem ainda indeterminada, que o programa estava acabando. Outro boato, igualmente inverídico, sinalizava para o pagamento de um bônus pelo Dia das Mães. A confusão se repetiu em pelo menos dez estados brasileiros, particularmente na região Nordeste. Há quem enxergue na confusão uma prévia da guerra suja que marcará as eleições presidenciais de 2014.
                A questão pode ser encarada sob outro ponto de vista: tudo que envolve o Bolsa Família desperta reações apaixonadas de entusiastas e adversários. Na Feira de Santana, 46,3 mil famílias são beneficiárias do programa. No total, aproximadamente 200 mil pessoas são beneficiárias diretas, o que representa mais de um terço da população feirense.
                Do total de beneficiários, 11 mil famílias encaixavam-se na condição de extrema pobreza. São mais de 37 mil pessoas vivendo com menos de R$ 70 mensais. Encaixam-se no público-alvo do programa Brasil Sem Miséria, que pretende erradicar a extrema pobreza no País, e fazem jus a uma complementação de renda adicional ao Bolsa Família.
                Essa condição de vulnerabilidade é mais perversa no campo: 18% dos extremamente pobres residem na zona rural feirense, embora mais de 90% dos feirenses morem na zona urbana. No entanto, a soma dos que moram na cidade e vivem com menos de R$ 70 também é alta: 31 mil pessoas.
                BPC
                Nem só de Bolsa Família vivem os feirenses mais pobres. Os Benefícios de Prestação Continuada (BPC) também são instrumentos importantes de distribuição de renda. No município, cerca de nove mil idosos são beneficiários da iniciativa e pouco mais de seis mil pessoas com deficiência. Essas pessoas, com seu rendimento de um salário mínimo mensal, ajudam a dinamizar o comércio e produzem impactos altamente positivos na economia local.
                Apesar das limitações impostas pelo mercado de trabalho, os feirenses pobres buscam alternativas de trabalho e renda. Uma opção é o programa de Microempreendedores Individuais (MEI), que contam com 12,7 mil cadastrados no município. Mais de três mil deles  sobrevivem com a complementação de renda do Bolsa Família.
                Algumas das principais atividades dos cadastrados no MEI envolvem cabeleireiros, vendedores de roupas, ambulantes que comercializam alimentos e proprietários de pequenas lanchonetes e casas de suco. Com seus produtos e serviços baratos, ajudam a equilibrar a robusta economia informal na Feira de Santana.
                Políticas
                O pânico desencadeado pelo boato irresponsável acerca do Bolsa Família afetou esse segmento da população. As dezenas de pessoas que foram até a agência da Caixa na Getúlio Vargas, por exemplo, foram movidas pelo receio infundado que, abruptamente, seriam lançadas ao desamparo que abraçou os brasileiros mais pobres nos últimos cinco séculos. A arraigada cultura escravocrata e aristocrática ainda lança suas sombras em pleno século XXI.
Ostensivamente, ninguém que flerta com as urnas admite a má vontade com o Bolsa Família, por mais que que o programa desperte a ojeriza de alguns. E tome discurso que é necessário ir além do Bolsa Família. Todos concordam num aspecto: a sociedade precisa dotar o indivíduo de condições que lhe permitam independência econômica, sem depender do Estado.
O problema é que todas as tentativas de se ir além do programa são defenestradas: as cotas premiam a incompetência; a elevação do salário mínimo é uma distorção redistributiva; e as demais políticas implementadas não passam de assistencialismo na dimensão social e populismo na dimensão política. Noutras palavras, enquanto essas ideias germinarem, o Bolsa Família seguirá despertando paixões ou pânico, como no sábado passado, simplesmente porque não se formulam alternativas a ele...
 


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