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A realidade do desemprego na Feira de Santana



           

          
A Educação numa sociedade moderna atende a múltiplas finalidades: eleva o nível cultural dos indivíduos, permitindo que usufruam os bens culturais que o cidadão pouco educado não consegue desfrutar plenamente; aumenta a qualidade das relações sociais que as pessoas estabelecem, dado que os mais bem-educados tendem a ampliar o leque de amizades e de relacionamentos interpessoais; e aumenta  a qualidade de vida, já que o diálogo e a expressão adequada das sensações e sentimentos contribuem para o convívio coletivo mais harmônico.
            É no mundo do trabalho, todavia, que se fazem mais sensíveis as diferenças em relação àqueles que tiveram ou não acesso à Educação nos seus primeiros anos de vida. Entre os que desfrutaram educação formal, se sobressaem os beneficiados pela educação de maior qualidade, que quase é quem pode pagar por ela.
            Costuma ser melhor remunerado, em média, quem possui grau de instrução mais elevado. Trabalhadores mais qualificados, além dos salários maiores, estão menos expostos ao risco de desemprego. E este, quando acontece, costuma durar um tempo médio inferior em relação a quem pouco pode estudar na vida.
            O parágrafo acima, em essência, não traz nenhuma novidade: incontáveis estudos em infinitos locais do planeta comprovaram e comprovam, sempre, a validade média dessas afirmações. A Feira de Santana, evidentemente, reforça essas observações, mas com dados recentes, extraídos do Censo 2010 do IBGE.

            Desemprego

            Em 2010, 111 mil feirenses sem instrução ou com o nível fundamental incompleto e com idade superior a 10 anos, conforme critérios empregados no estudo, estavam no mercado de trabalho; outros 118 mil não trabalhavam na semana de referência do levantamento. Isso significa praticamente uma proporção de um para um, evidenciando elevado nível de exclusão do mercado de trabalho.
            Quando se consideram os trabalhadores com nível fundamental completo e médio incompleto, as proporções já são diferentes: 50 mil trabalhavam e 27 mil não trabalhavam, o que representa proporção de dois para um.
Essa tendência se acentua com relação a quem possui nível superior incompleto: 107 mil trabalham e apenas cerca de 29 mil não trabalham; note-se que, nesse universo, são contabilizados quem não conseguiu concluir o nível superior e quem está cursando e não trabalha, inclusive por opção. Em síntese, a proporção alcança cerca de três para um.
Por fim, quando são contabilizados os que possuem nível superior completo, a proporção chega a dez para um: cerca de 21 mil trabalham e 2.500, aproximadamente, não trabalham.
Assim, com base nesses dados, pode-se deduzir que quem não estudou ou não concluiu o nível fundamental, tem 10 vezes mais chances de ficar desempregado que alguém com nível superior completo na Feira de Santana.

            Tendência

            É claro que esses números, por si mesmos, não refletem uma situação precisa do mercado de trabalho na Feira de Santana, mas sinaliza tendências: quem estuda mais, tem maiores possibilidades de conseguir trabalho; quem estuda menos, além das dificuldades naturais de inserção, ainda sofre com as remunerações baixas.
            Os dados mostram também que, quanto mais elevado o nível educacional da população, menor a exposição das pessoas a problemas decorrentes do desemprego ou do subemprego, o que inclui a violência, que todos os anos ceifa tantas vidas na Feira de Santana...

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