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Arrocho marca início de 2013 nas prefeituras



                

  Os primeiros dias do ano se mostraram turbulentos em muitas prefeituras brasileiras. Incêndios inexplicáveis transformaram contratos suspeitos em cinzas, computadores foram furtados nos últimos dias de dezembro em repartições públicas, legiões de servidores públicos atravessaram as festas de final de ano sem salários e sem o décimo terceiro e, em alguns casos, prefeitos larápios simplesmente sumiram com o butim amealhado nos cofres da Viúva.
            As surpresas desagradáveis, porém, não se esgotaram aí: fustigados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, prefeitos recém-empossados anunciaram medidas drásticas, como a suspensão de pagamentos a fornecedores, abdicaram da nomeação para inúmeros cargos de confiança e – em casos extremos – até suspenderam a oferta de determinados serviços à população.
            Alguns descontentamentos já afloram: entusiastas apoiadores dos prefeitos eleitos, preteridos porque as nomeações foram suspensas já destilam rancor, embora ainda discretamente; e promessas que arrebataram eleitores vem sendo redimensionadas, em função das restrições fiscais. Enfim, nesses dias de janeiro, o que prevalece são os “choques de realidade”, em lugar dos repisados “choques de gestão”.
             As expectativas são atiradas para mais adiante: muitos torcem para que a economia volte a crescer nesse 2013, para alento das contas públicas; no Nordeste, pede-se mais chuva, já que a prolongada estiagem tornou ainda mais precária a situação de milhões de pessoas, afetando o nível de atividade econômica.

            Feira de Santana

            Feira de Santana não foi parar no noticiário nacional, mas se percebe que a situação do município também não é das mais confortáveis. As próprias medidas anunciadas pelo prefeito recém-empossado, José Ronaldo, mostram isso: diversas nomeações não se efetivaram nesses primeiros dias e contratos da prefeitura – herdados da gestão passada – estão sendo reavaliados.
            Uma olhada nos demonstrativos quadrimestrais de despesa com pessoal mostra que a situação não está fácil: em agosto, a prefeitura desembolsou R$ 296 milhões com folha, muito perto do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal, estimado em R$ 299 milhões. Em abril, a situação ainda era pior: somente R$ 530 mil separavam o gasto com a folha do limite prudencial de então, estimado em R$ 290 milhões.
            Esses valores aproximam-se perigosamente do limite máximo de R$ 305 milhões e R$ 314 milhões estabelecidos para os meses de abril e agosto, respectivamente. Passando desse teto, o gestor coloca-se sob o risco de se tornar inelegível, além de responder criminalmente pela “prodigalidade”.

            Salário-Mínimo

            Os balancetes disponibilizados no site da prefeitura não foram atualizados com os dados de dezembro. Só com essa divulgação é que se saberá – com exatidão – a quantas andam os cofres da prefeitura da Feira de Santana. Bem, com certeza, não estão: provavelmente a situação não melhorou nos quatro últimos meses, quando as reclamações dos prefeitos acerca da queda nas receitas se tornaram mais intensas.
            Em janeiro entrou em vigência o aumento do saláriuo-mínimo, o que vai impor desafios adicionais à prefeitura. Não se sabe quantos servidores recebem o valor, mas é inegável o impacto sobre as finanças municipais. Mais adiante, virá à discussão o reajuste dos demais servidores municipais.
            Apenas com base nessas informações, nota-se que a situação das finanças do município é crítica, o que justifica plenamente as medidas anunciadas nos primeiros dias do governo. Ironicamente, não faltaram promessas do ex-prefeito Tarcízio Pimenta para os servidores municipais. Inclusive um delirante décimo-quarto salário que entrou no anedotário eleitoral...

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