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A ilusão das pirâmides



                

   Nos primórdios da Internet, quando as contas de e-mail começavam a se afirmar como ferramenta de comunicação, os usuários costumavam se deparar com a praga virtual das correntes. Nas caixas de entrada pululavam mensagens compostas por sortilégios, profecias, maldições e ameaças veladas. Quem se atrevesse a romper as correntes, não repassando-as através de sua lista de e-mails, sofreria desgraças inimagináveis num futuro muito próximo.
            Algumas correntes reivindicavam fins humanitários: quem as repassasse, estaria ajudando crianças doentes, idosos abandonados ou um leque amplo de desvalidos. Dizia-se que, simplesmente repassando o e-mail adiante, assegurava-se alguma remuneração para o infeliz cuja foto ilustrava a mensagem.
            Os modismos virtuais, com vigência efêmera, logo são abandonados. Esse foi o destino das correntes: com o surgimento das redes sociais e de outras alternativas de entretenimento, internautas ociosos – ou ingênuos – esqueceram a aporrinhação que inundava caixas de e-mails.
            Mas, desde então, a diversidade de mensagens inúteis – propagandas ou os chamados spams – só cresceu. Com as mensagens inúteis, vieram os e-mails maliciosos de criminosos que tentam se apoderar de dados pessoais dos internautas. Muitas mensagens chegam alertando para a necessidade de atualizar dados cadastrais em bancos.

            Pirâmides

            Nos últimos meses surgiu uma nova modalidade de golpe virtual: a pirâmide. Tão antigo quando a humanidade, o golpe emprega uma engenharia simples: o incauto ingressa no negócio investindo algum dinheiro e arregimentando mais ingênuos que, na hierarquia da pirâmide, vão assegurar a rentabilidade de quem está nos níveis superiores.
            Uma hora a pirâmide desmorona: o sistema é insustentável porque é impossível expandir-se indefinidamente, arregimentando infinitos participantes. Embora tosco, o método fustiga o sonho do dinheiro fácil entre milhares de desatentos ou ingênuos. Sempre há, portanto, potenciais novas vítimas.
            As pirâmides tem até um nome novo e pomposo: marketing multinível. Marketing do quê? De produtos vagos ou imprecisos que são produzidos por empresários imaginários com dinheiro cedido pelos iludidos cotistas. Embora a lógica contrarie os mais elementares princípios da teoria econômica e do bom senso, segue atraindo gente e fazendo vítimas.

            Internet

            As pirâmides continuam fazendo estragos cada vez maiores porque contam com a velocidade da Internet para se propagar. Em poucos dias recebi pelo menos umas dez mensagens, sempre com um texto mal-elaborado recomendando o método e alguns supostos produtos.
            Outras mensagens são mais diretas: recomendam depósitos de R$ 2, de R$ 5 ou de R$ 10 em contas-correntes, com a promessa que, lá adiante, o depositante também será o feliz contemplado. Prometem-se lucros de até um milhão de reais. Sou curioso e pesquisei no Google os nomes de alguns beneficiários do “programa”.
            Um era contumaz adepto das pirâmides; outro é empresário e cambaleia sob processos trabalhistas; um terceiro vive sendo reprovado para funções modestas em concursos públicos de prefeituras do interior paulista. Como se vê, gente não exatamente recomendável. Malandros assim vendem o sonho da fortuna fácil no perigoso ambiente virtual. Muitos, na Feira de Santana, vem engrossando as fileiras de vítimas.

           

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