O noticiário
da última semana voltou a martelar o drama da seca na Bahia, inclusive exibindo
a pouca intimidade das autoridades com o problema secular da região. Na
imprensa, apenas em março do ano passado o problema ganhou o noticiário:
emissoras de tevê, rádios, jornais e todo o universo digital soteropolitano
registraram a estiagem que começava a se tornar mais aguda. Repercutiram as
imagens dos animais abatidos pela falta de água e pastos e as longas incursões
dos sertanejos à cata de água.
Nos
meses seguintes o noticiário eleitoral sufocou o drama da seca, que persistia.
Pouca importância se deu às festas juninas mais magras dos sertanejos. Afinal,
o negócio São João volta-se para as classes médias dos centros urbanos da
Bahia, pouco expostas às intempéries climáticas. Depois, vieram as eleições e o
tempo foi pouco para as tradicionais futricas eleitoreiras. Debate real sobre
as questões que afligem o campo – sobretudo a seca – pouco se viu.
Subitamente,
a seca inclemente retornou ao noticiário, mais uma vez produzindo imagens
impactantes: os rios estão secos; carcaças de animais são facilmente
encontradas às margens das rodovias; a campina agreste descortina-se nua, à
exceção das plantas que sobrevivem, ferozes, ao clima hostil. E o drama humano
desenrola-se, quase sempre silencioso e resignado.
Abril
caminha para o final e as perspectivas de chuvas intensas se desfazem. Afinal,
a partir de maio o sertanejo conta apenas com as tímidas garoas que somente atenuam
o calor das tardes abrasadoras. As perspectivas projetam-se para novembro, caso
realmente comece a chover. Em 2012, apesar das esperanças, a chuva não veio.
Cenário
Apontada
como próspero centro urbano do Nordeste, a Feira de Santana também padece sob a
seca. Na zona rural, nas franjas da área urbana, residem exatas 46.007, de
acordo com o Censo 2010 do IBGE. Essas pessoas se distribuem em 12.427
domicílios rurais, muitos deles abastecidos atualmente pelos carros-pipa.
Para
os animais, o drama é ainda maior. Em 2011, antes do início do recente flagelo,
o rebanho bovino somava 64 mil animais; 8,5 mil caprinos bodejavam pelos pastos
feirenses; 59,2 mil porcos engordavam; e 14,5 mil equinos corriam pelo campo.
Não se sabe ainda quantos animais permanecem vivos. O certo é o valor dos
rebanhos despencou, dada a falta de alimentos e o inevitável emagrecimento.
O
feirense da zona rural é pobre: a renda média por pessoa não ultrapassa R$
381,58, exatamente a metade do que ganha, em média, o cidadão urbano: 771,23. Com
a seca, certamente as dificuldades cresceram e muitos veem o fantasma da fome
como uma ameaça concreta.
Cachê
Mas,
apesar de todo esse drama, a Micareta segue de vento em popa. A própria
prefeitura, mesmo com todas as dificuldades que o homem do campo enfrenta,
tentou contratar Ivete Sangalo oferecendo “apenas” R$ 350 mil de cachê. E,
ainda assim, a estrela-maior da música baiana recusou.
Somente
quatro carros-pipa abastecem milhares de pessoas. Não é necessária muita
criatividade para imaginar os esforços que essas pessoas fazem para aproveitar
ao máximo o pouco recurso disponível.
É
de se imaginar imaginando o quanto esses R$ 350 mil economizados poderiam
contribuir para pelo menos amenizar o drama do feirense sem água...
Comentários
Postar um comentário