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A UFRB, o Aviário e os pés de pavão



               

O Aviário está entre os bairros mais carentes, além de ser um dos mais distantes do centro da Feira de Santana. O nome curioso se deve a um antigo projeto de criação de aves nas redondezas, que fracassou e foi extinto há muitos anos. Como recordação da iniciativa quase esquecida, ficou o nome do bairro. Parte da vizinhança do Aviário é indesejada: ali perto fica o Conjunto Penal, onde cumprem pena ou aguardam sentença centenas de presos da própria Feira de Santana e de municípios vizinhos.
O principal acesso ao bairro se dá pela antiga rodovia entre a Feira de Santana e Salvador, a famosa “Feira-Bahia”. Também é possível acessá-lo através da BR 324, percorrendo também alguns quilômetros por uma estrada lateral, asfaltada há uns poucos anos. Ambas as alternativas, porém, envolvem longos trajetos, já que o bairro surgiu num local distante do município.
Positivamente, o Aviário frequentou o noticiário nas visitas que o ex-presidente Lula fez à Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana (FAMFS) para conhecer o projeto social que fazia sucesso no início da década passada. Restou, como lembrança, o imenso aparato mobilizado para o presidente que iniciava seu primeiro mandato. Parte das notícias, ainda hoje, está disponível na Internet.
No mais, o Aviário só ocupa o noticiário com temas desagradáveis: a violência que amedronta os feirenses também assola a comunidade, produzindo cadáveres e histórias trágicas; as ruas do bairro sofrem com a ausência de saneamento, pavimentação e com iluminação pública deficiente; os serviços de saúde se limitam a um único posto médico; e, quando as chuvas são intensas, os esgotos transbordam invadindo as humildes residências dos moradores do lugar.

UFRB

Pois é nesse bairro com tantas carências que a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) vai implantar seu campus, com previsão de funcionamento ainda nesse 2013. Depois de inúmeras negociações, chegou-se ao consenso que a instituição deve funcionar em uma área da FAMFS, que atualmente enfrenta dificuldades financeiras e que, por essa razão, fará a cessão.
Quando estiver em pleno funcionamento, o campus vai abrigar 2,3 mil alunos, 130 professores e 80 profissionais da área administrativa. O primeiro vestibular deve acontecer em 2014, ano de eleição presidencial. Pela previsão, funcionarão cursos de graduação e mestrado em áreas nobres de ciência e tecnologia.
A localização da UFRB no Aviário surpreendeu: pelos comentários, esperava-se que o campus ficasse na BR 116 Norte, aproveitando a proximidade estratégica da UEFS. Talvez a indisponibilidade de áreas com o tamanho adequado tenha inviabilizado a medida. O certo é que as duas instituições públicas de ensino superior no município ficarão – ao menos geograficamente – muito distantes.

Expectativa

A UFRB em Feira de Santana dá a largada com, pelo menos, uma irônica semelhança com a UEFS: vai ser implantada em uma região limítrofe da cidade, com um entorno onde predomina pobreza absoluta. Foi assim com a UEFS, que é separada do bairro Novo Horizonte apenas por uma lagoa. E, pelo visto, vai ser assim também com a UFRB.
A escolha sinaliza também para uma perversa ironia: imersas em suas atividades acadêmicas e voltadas para os segmentos médios e altos da população, que podem frequentar seus espaços, as universidades públicas pouco se envolvem com o seu entorno. Com vizinhança acadêmica ou não, a população segue à míngua.
No caso da UFRB, no entanto, pelo menos uma intervenção terá que ocorrer com a máxima urgência: a melhoria no sistema de transportes para o bairro, beneficiando, ainda que indiretamente, a comunidade. No mais, resta a expectativa de que a UFRB cresça e se consolide cercada de exclusão por todos os lados. Ou que se torce vistosa como um pavão, mas cujos pés...

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