Maior entreposto comercial do interior da Bahia, o Centro de
Abastecimento esteve à míngua nessa segunda-feira (28). Quase não há mais o que
vender e os frequentadores – sobretudo aqueles que desembarcam de municípios
próximos – não compareceram. “O pessoal está com medo de não ter como voltar
para casa”, resumiu um comerciante, que examinava com atenção a tela do celular,
já que não havia clientes para atender. Essa, a propósito, foi a regra pela
manhã, horário de intenso movimento em dias normais. Com a prolongada greve dos
caminhoneiros, a queda no fluxo foi drástica.
Que o Centro de Abastecimento vive dias atípicos é facilmente
constatável: nos galpões atacadistas, que ficam à margem da Avenida de Canal,
não havia o tradicional frenesi de desembarque e embarque de mercadorias. Pelo
contrário: não havia caminhões descarregando e raros eram os utilitários que
estavam por lá, transportando mercadorias revendidas em mercadinhos e
feiras-livres de bairro.
Muitas barracas permaneciam fechadas a cadeado. Pelas grades,
percebia-se tudo vazio, sem estoque disponível. Um ou outro comerciante exibia
razoável estoque de batata inglesa, mas faltavam clientes. Cebola, tomate e
pimentão – itens indispensáveis na dieta do feirense – estavam em falta. Aqui
ou ali, montes de abóboras, certamente colhidas na região, despertavam a
atenção dos escassos compradores.
No galpão varejista de verduras e legumes havia imensa
desolação: dezenas de barracas vazias, sem produtos ou vendedores. Laços firmes
nas lonas que encobrem as barracas mostravam que os verdureiros sequer
compareceram ao entreposto. Uns poucos, mais afortunados, vendiam braças de
hortaliças, extraídas das hortas do Bessa e de Amélia Rodrigues.
Carne e Cereais
Açougueiros papeavam, à espera de clientes incertos. Restava
pouco de carne para vender: nas vitrines frigoríficas, um ou outro pedaço do
produto em exposição. Frequência rotineira só a dos cães vadios circulando
pelos corredores. Também estava em falta a afamada carne salgada da região. E a
oferta de doces – em pasta ou em barra – era muito menor que o habitual.
Invariavelmente os comerciantes examinavam as telas dos celulares, entediados.
As sacas de feijão, de farinha e de arroz estão se esgotando,
mas o cenário é mais alentador que nas seções de hortifrutigranjeiros. Aqueles
boxes que mercadejam óleo de soja, fósforo, sabão em pó, macarrão, charque,
mortadela e mais uma infinidade de produtos estavam bem abastecidos. Mas
permanecia o problema da clientela escassa e arisca nesses dias de incerteza.
Muitas mesas estavam vazias nos boxes que vendem refeições e
bebidas. Ali, o problema era outro: a ausência dos clientes das cercanias, que
não viajaram em função das incertezas nas estradas. Os telejornais – exibidos
em tevês espalhadas pelos boxes – despertaram atenção incomum durante a manhã.
“Está faltando autoridade”, reclamou um inconformado com o impasse.
Centro da Cidade
O paradeiro se estendeu também ao centro da cidade. Na Praça
Bernardino Bahia – tradicional ponto de comercialização de frutas, verduras,
legumes e hortaliças – havia poucos vendedores. Maçãs, acerolas, abacaxis e
tangerinas estavam entre os poucos produtos disponíveis. Mas quem passava
dedicava pouca atenção às ofertas e os comerciantes, ociosos, entabulavam
longas conversas.
As incontáveis barracas dos camelôs, com seus diversos
produtos, estavam abertas, mas a clientela também estava escassa. Aqui ou ali
alguém escolhia um CD pirata, uma mulher examinava roupas em exposição nas
barracas, mas o movimento era ínfimo. O trânsito de pedestres pelos calçadões –
difícil às segundas-feiras – estava muito tranquilo. Havia mais silêncio: os
pregões tornaram-se inúteis, principalmente de quem vende chip de celular.
Os efeitos da paralisação dos caminhoneiros – que já dura mais
de uma semana – vão começar a ser sentidos de fato, com o desabastecimento d
e feiras, supermercados, padarias e
restaurantes. Há filas nos postos e se tornou comum gente transportando
recipientes para depositar combustíveis. Os motociclistas são os mais ansiosos
em filas que vão se avolumando quando há reabastecimento no posto.
Até aqui, percebe-se uma festiva adesão de muita gente. Não
falta quem se arroje nas conversas, defendendo a deposição de Michel Temer
(MDB-SP) e há quem circule com bandeiras brasileiras, acessórios verde-amarelos
– esquecidos nos últimos dois anos – convicto de que há, em curso, mas uma
jornada cívica. Caso os caminhoneiros não recuem e haja efetiva crise de
abastecimento, ninguém sabe como vai ficar esse apoio.
Aliás, hoje, ninguém sabe de nada sobre o que
está por vir.
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