Quem passa pelo lado de fora não deixa de sentir
indisfarçável mal-estar. O polêmico Centro de Convenções da Feira de Santana,
localizado ali no bairro São João, próximo à avenida João Durval, segue
aguardando uma decisão sobre o seu destino. Hoje, como está, não deixa de
constituir um monumento à “não-decisão” dos sucessivos governos petistas que se
revezam no comando da Bahia desde 2007. As obras foram paralisadas há mais de
dez anos e, embora a cidade careça do equipamento, não se resolve o
interminável imbróglio.
A novela é longa: as obras começaram no
segundo governo Paulo Souto, na primeira metade da década passada. Com a
entrega do equipamento, esperava-se fomentar o turismo de negócios no município
e assegurar um espaço para a realização de grandes eventos na Feira de Santana.
Só que, em 2006, antes da conclusão da obra, Paulo Souto foi derrotado na
disputa pelo governo da Bahia e o drama começou.
Nesses mais de dez anos foram apresentadas várias versões
para a interrupção da obra. A mais recorrente apontava para erros estruturais
que inviabilizariam o equipamento. Depois, essa versão foi abandonada, mas o
futuro Centro de Convenções foi se deteriorando, enquanto prosseguiam, pela
imprensa, os choques de versões, altamente partidarizadas.
Hoje não passa de uma estrutura inacabada que, aos poucos,
vai se convertendo em ruínas sob a inexorável ação do tempo. Sequer existem
placas sinalizando o que é aquela estrutura cinzenta, com manchas escuras e
vergalhões expostos, enferrujados, apontando para o céu. As que havia, foram
consumidas pelo sol inclemente e pelas chuvas.
Eleições
O Centro de Convenções só volta à pauta nos períodos
eleitorais. Em eleições passadas, às vezes, apareceram por lá trabalhadores
fazendo uma manutenção cosmética, encenando uma retomada nas obras, que era
abandonada logo depois do pleito. Compunha bem o figurino dos governos
dinâmicos, que trabalham, que estão atentos. Tudo para enganar o eleitor.
Como não pode deixar de ser, em 2018, volta-se a falar do
Centro de Convenções. E o discurso é promissor: já se visualiza o equipamento
construído, funcionando, sendo repassado à prefeitura. Faltam cerca de quatro
meses para as eleições. Provavelmente depois de outubro o silêncio habitual vai
voltar a prevalecer, como acontece desde sempre.
Seria bom que viesse à luz uma explicação plausível para a
década de abandono da obra. Desculpas foram se avolumando, pouco convincentes,
enquanto o tempo e o descaso dilapidavam o suado dinheiro do contribuinte gasto
com projeto, cimento, ferro, concreto e mão-de-obra. Nalgum lugar civilizado –
o que não é o caso – a situação provocaria escândalo, indignação. Mas não aqui.
Prioridades
Construído, o Centro de Convenções funcionaria como um vetor
de desenvolvimento para aquela região da Feira de Santana. Hotéis, bares,
restaurantes – o próprio shopping que funciona lá perto – seriam beneficiados,
com a dinamização da economia das proximidades. De quebra, seriam gerados
empregos, muito bem-vindos, sobretudo nesses tempos de aguda crise econômica.
Feira de Santana também iria se credenciar para atrair
eventos de maior porte, o que se traduziria em mais turistas – quem viaja para
participar de evento costuma desembolsar, na média, mais que o turista habitual
– e, quiçá, no impulso a equipamentos que permanecem subutilizados, como é o
caso do aeroporto, com seu solitário voo semanal dos dias atuais.
Enfim, se estabeleceria uma espiral virtuosa.
Mas graças à tibieza na tomada de decisão sobre o Centro de Convenções – e à
pusilanimidade do feirense, que deveria reforçar as cobranças – o problema se
arrasta, há impressionantes 11 anos. E, pelo jeito, o que está se produzindo é
só marola, que vai expirar depois de passadas as eleições...
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