A
Praça Dom Pedro II – mais conhecida como Praça do Nordestino – é um dos espaços
mais emblemáticos da Feira de Santana. Mais pelo que já representou no passado
que, propriamente, pelo que significa no presente. O espaço margeia a
engarrafada avenida Senhor dos Passos e fica muito próxima da rua Sales
Barbosa, efervescente centro de comércio popular do município. É relíquia dos
primeiros impulsos da expansão urbana, quando a cidade se desgarrava das
cercanias da Praça da Matriz, espichando-se.
Nas
décadas de 1980/1990 e no início dos anos 2000 o Nordestino era um dos
principais destinos de quem transitava de ônibus pela Feira de Santana. Até os
anos 1980, na Senhor dos Passos, os carros circulavam em mão dupla – aqueles
blocos de concreto apelidados de “gelo baiano” separavam as duas faixas – e a circulação
de pessoas por ali já era grande.
Não
havia Feiraguai, o comércio não se expandira tanto em direção à Getúlio Vargas,
tampouco haviam surgido os shoppings e centros comerciais: tudo isso fazia com
que o feirense – e os eventuais visitantes – concentrassem o desembarque no
Nordestino, já que o centro de compras era menos extenso. Abrigava-o,
sobretudo, a Sales Barbosa, a Conselheiro Franco e as estreitas artérias
próximas.
A
demora ali era longa: os ônibus paravam no terminal e iam descendo homens,
mulheres, crianças, idosos. Mais tarde, embarcavam com embrulhos, com
utensílios domésticos, em demorados movimentos. Eram muitos ônibus: todos
faziam um circuito pelo centro da cidade (o “Circular”) e havia roteiros
específicos – o “Direta” – que só iam até o Nordestino. Praticamente todos
passavam pela praça.
Pontos de Parada
Naquela
época ainda não havia acontecido a reforma que substituiu o calçamento de
paralelepípedos azulados por placas de concreto. E quem esperava condução não
contava com abrigos. As dezenas de linhas distribuíam-se por quatro pontos de
parada. Apesar da habitual demora, as viagens eram mais rápidas, porque a frota
em circulação era muito menor e o trânsito, fluido.
As
calçadas permitiam o trânsito livre, já que o País apenas ingressava na era
feroz da economia estagnada, o que levou muita gente a ocupar os espaços
públicos como camelôs e ambulantes para garantir o ganha-pão. A população
feirense, inclusive, era muito menor: somente em 1990 se alcançou a marca dos
409 mil habitantes, conforme contabilidade do IBGE.
O
comércio também era mais dinâmico naquelas cercanias: ambiente de circulação de
milhares de feirenses todos os dias, as lojas registravam frequência, a
freguesia aproveitava para examinar produtos, comprar pão numa padaria que
funcionava ali, visitar um antigo supermercado já fechado, conferir preços nas
sapatarias próximas.
Desolação
Hoje
uns poucos ônibus despejam passageiros naqueles abrigos malconservados:
praticamente todas as linhas foram desviadas, circulando pela Senhor dos Passos
ou nem passando mais por ali. O Nordestino, portanto, perdeu sua função natural
e hoje a praça padece sem os atrativos do passado. O comércio local,
obviamente, sofre os efeitos, esvaziando-se.
Restam
motoristas e mototaxistas que aguardam passageiros eventuais no estacionamento.
Pardais piam animadamente nas árvores escassas. E dezenas de barracas oferecem
produtos que se encaixam nos bolsos dos frequentadores mais modestos. Aos
sábados, o ambiente fervilha com gente bebendo, comendo e conversando.
Placas
anunciam cuscuz com ensopado; o colorido de uma marca de aguardente pintado nas
barracas evidencia o patrocínio; há quem passe e adquira cigarro a retalho;
quem bebe cachaça mastiga passarinha ou morde um pedaço de moela. No início do
verão cajus amarelos repousam sobre os balcões metálicos. Há quem asse pedaços
de carne em fogareiros metálicos.
Tráfego
O
dinamismo do transporte público se deslocou para o Terminal Central, ali nas
imediações do Centro de Abastecimento, contribuindo para esvaziar ainda mais o
espaço. Muita gente aguarda no Nordestino a condução para fazer a baldeação por
lá. Outros embarcam mais adiante, na praça Bernardino Bahia, o que contribuiu
para reduzir ainda mais o fluxo pelo Nordestino.
Para
quem viveu aqueles tempos, restam as lembranças que vão se apagando na memória,
da cidade mais simples e mais hospitaleira. E a desolação por ver a praça,
hoje, sem uma função, subutilizada. Quem chegou depois fica com a impressão
desagradável da praça suja, feia, malconservada, com suas calçadas esburacadas
e o lixo que se acumula nos finais de semana.
É
evidente que não tem mais sentido resgatar o passado remoto que se refugia,
impreciso, na memória. Mas é patente que a Praça Dom Pedro II – o nome é
imponente –, o popular Nordestino, precisa de uma intervenção para
revitalizá-la, atribuir-lhe um novo sentido, torná-la agradável para os
feirenses. Fica a expectativa em relação à iniciativa.
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