O
Brasil voltou a flertar com a desaceleração econômica. É o que sinaliza a
prévia do Produto Interno Bruto – PIB divulgada pelo Banco Central, o BC, essa
semana. Março foi um mês desfavorável: a queda, em relação ao mês anterior,
fevereiro, foi de 0,74% e, na comparação com o mesmo mês de 2017, o declínio
foi menos intenso: 0,66%. Analistas estimavam retração bem mais modesta: apenas
0,1%. Isso vai impactar sobre a mesma prévia do PIB: queda de 0,13% em relação
ao trimestre anterior.
A
divulgação dos números levou os analistas a refazerem seus cálculos sobre o PIB
de 2018. Antes, as projeções apontavam para um crescimento em torno de 3%.
Depois da divulgação dos dados nada alvissareiros referentes ao primeiro
trimestre, a expectativa caiu para algo perto de 2,5%. Diversos fatores ajudam
a explicar essa retração.
Sob
a perspectiva estritamente econômica, o desemprego elevado impede o aquecimento
da demanda interna, freando a retomada. Os juros caíram, mas, sem trabalho, o
brasileiro não se anima a consumir. A informalidade, a compressão salarial –
inclusive no setor público – e as incertezas decorrentes da tresloucada reforma
trabalhista, que desestimulam as contratações, são explicações adicionais.
A
variável psicológica – as expectativas – seguramente influi nos indicadores. É
que, acossado pelo renitente noticiário sobre o descalabro econômico há anos, o
cidadão teme comprometer a poupança módica, ou enredar-se em dívidas. E, pelo
que enxerga no noticiário, o futuro segue pouco promissor. Salvo, é claro, na
propaganda oficial.
Eleições
Outro
fator de instabilidade são as eleições presidenciais. Até aqui, a sucessão
oferece um empolgante roteiro cinematográfico: dezenas de candidaturas, o líder
nas pesquisas condenado e preso, o segundo colocado entusiasta do regime
militar e dezenas de legendas barganhando, mercadejando, farejando o melhor
negócio. O que menos se ouve são propostas para remover o país do atoleiro.
O
que pensam os candidatos sobre a reforma da Previdência? Os doidivanas que
defendem o “Estado mínimo” tem alguma proposta de reforma? Ou vão tocar o
governo com o mesmo modus operandi de
Michel Temer, o mandatário de Tietê? E o descalabro fiscal? Como, quando e de
que forma será feito o ajuste? Se existem respostas a essas questões, seguem
guardadas em completo sigilo.
Enquanto
isso o brasileiro se vira: torna-se microempresário – eufemismo para camelô ou
ambulante –, garante o dinheiro do pão fazendo biscate, arranja emprego com
salário mais baixo ou amarga seu infortúnio entregando currículo, comparecendo
a entrevista, esperando nas filas dos serviços de intermediação de mão de obra.
Empolgante,
hoje, só a propaganda do governo, os anúncios oficiais, as solenidades nas
quais se descrevem futuros radiosos, os números controversos compilados em
textos entusiasmados. A prévia do PIB, porém, está aí, desmentindo a conversa
fiada, a empulhação persistente. Não há dúvidas que a economia cambaleia e que
os discursos são incapazes de sustentá-la de pé, mantê-la ereta.
O fato é que os desafios
para a retomada da economia seguem colocados.
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