Lula
amargou mais uma derrota no Supremo Tribunal Federal. Foi essa semana, no
julgamento de um recurso que solicitava sua libertação. Pelo que noticia a
imprensa, a partir daqui é provável que o ex-presidente fique, pelo menos, algum
tempo preso. A decisão começou a esfriar a pressão por sua soltura – que já não
tinha grande repercussão – e açulou os mais pragmáticos – e afoitos – a buscar
alternativas eleitorais viáveis para o petismo antes que a Justiça bloqueie
formalmente a candidatura de Lula.
Dois
nomes despontam como pré-candidatos da legenda: o ex-prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Parte do petismo –
a banda mais otimista – aposta que basta Lula sinalizar para a indicação de
qualquer um dos dois que a vitória está assegurada, talvez até no primeiro
turno.
Mas
há quem defenda, dentro do petê, o apoio à pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT),
ex-governador do Ceará e ex-ministro do próprio Lula. Esses são movidos pela
crença de que a legenda deve buscar fortalecer uma opção à esquerda e
aproveitar a temporada longe do exercício do poder para se reestruturar e, quem
sabe lá adiante, disputar novamente a presidência.
As
duas soluções contêm elevado teor de pragmatismo. Seja buscando resgatar o
protagonismo lançando um nome próprio, seja recorrendo à aliança com uma
candidatura viável à esquerda e apostando num providencial recuo estratégico, o
PT seguirá às voltas com uma questão candente, difícil de resolver: o destino
de Lula.
Efeitos
colaterais
Com
Lula candidato o PT sustenta a versão do “golpe”, mas abdica de alianças
essenciais para quem deseja chegar ao poder. É que, lá adiante, a candidatura
dele tende a ser indeferida. Daí seria necessário recorrer a um “poste”, faltando
poucos dias para as eleições: o prazo, curto, pode inviabilizar a eleição do
indicado.
São
prováveis os efeitos colaterais noutras esferas eleitorais: com uma candidatura
instável, o número de deputados eleitos pode cair dramaticamente; e governadores
da legenda podem enfrentar dificuldades em suas ambições eleitorais. É
altamente provável, também, que antigos aliados à esquerda encorpem às expensas
do espólio petista.
Sob
a fria lógica eleitoral, Lula deveria começar a ser tratado como “baixa de
guerra”: uma perda considerável – a maior da legenda – mas hoje apenas uma
perda. Muitos já devem enxergar como inútil o esforço de ir arrastando o líder
extirpado de seus direitos políticos e já alojado no cárcere. Melhor seria
recauchutar o discurso e tentar tocar o barco com novas lideranças,
aproveitando – paradoxalmente – a popularidade do ex-presidente.
Dilema
Mas
como desligar da tomada a maior liderança política das últimas décadas? Como
relegá-lo ao cárcere, fadado ao esquecimento sabe Deus até quando? Seria
difícil ao petismo orientar-se, estabelecer um caminho, sem a exaltada intuição
política do seu líder. E se as massas que votam nele entenderem o gesto como
uma traição? São questões que devem inquietar as principais lideranças do
partido.
A
abdicação do protagonismo por Lula também poderia deflagrar uma guerra entre as
diversas correntes internas da legenda, que desde sempre vivem se digladiando. Quem
conseguiria arbitrar essas divergências, mantendo a coesão interna? Até aqui só
Lula. A escolha por alguém que não seja consenso no partido – e, à exceção de
Lula, ninguém é – pode ampliar as fissuras já visíveis.
O
fato é que não é manobra simples substituir Lula por outro nome, mesmo que seja
ungido por ele. Se com cenário amplamente favorável – como ocorreu na ascensão
de Dilma Rousseff – deu no que deu, imagine agora, quando parte da
infalibilidade de Lula é questionada e quando a legenda se encontra longe do
poder. Isso sem contar que, recuando, Lula verá a pressão por sua liberdade
arrefecer.
Não é trivial o dilema
enfrentado pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições 2018...
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